Lava a Jato pro brejo?

José Horta Manzano

No primeiro momento, quando vazou a notícia de que o juiz Moro podia se assentar no topo do Ministério da Justiça, também senti certo desconforto. “Se o homem está tão bem onde está” ‒ pensei ‒ “por que diabos tirá-lo de lá? Não se mexe em time que está ganhando.”

Passaram-se alguns dias e a ideia foi amadurecendo. Ah, nada como um dia depois do outro (com uma noite no meio)! Com o espírito serenado e já acostumado à nova realidade, dá pra reavaliar a decisão do juiz. De toda maneira, ele aceitou o convite do presidente eleito. Vai virar superministro em janeiro.

O inconveniente maior que consigo enxergar é o fato de doutor Moro abrir mão da cátedra de juiz federal para tornar-se, no fundo, funcionário subalterno de doutor Bolsonaro. Trocou a inamovibilidade e a estabilidade da carreira de juiz pelos tremores de uma poltrona ejectável. Mas esse problema é dele. Fora isso, ganham todos.

Doutor Moro ganha em altitude perante o povo. Se, antes, já era figura pra lá de popular, pode agora abrir as asas pra voos mais ousados. Não seria espantoso se estivesse entre os pré-candidatos para as eleições presidenciais de 2022. Com boas chances de levar a taça, dependendo ainda do balanço de sua gestão.

Doutor Bolsonaro ganha em credibilidade. Dá um ‘chega pra lá’ no temor que alguns têm de ver a Constituição rasgada pra dar lugar a regime militar ou ditatorial. Doutor Moro é baluarte da lei. Quem tem vocação pra ditador não convoca Moro de assistente.

Ganha o Brasil, com maior amplitude e mais largo raio de ação de um incansável batalhador contra a corrupção nos altos escalões. Digam o que disserem, o ministro da Justiça ‒ mormente quando respaldado pelo presidente ‒ tem muito mais poder do que um juiz de Primeira Instância.

Uma consideração final. Tem gente por aí achando que, com a saída de doutor Moro, a Operação Lava a Jato vai pro brejo. Isso me faz lembrar a lição de um superior hierárquico, muitos anos atrás. Ensinou-me que a gente deve aprender a delegar, a não segurar todo o serviço, a deixar que colegas e subalternos assumam as rédeas. «Você verá que os controles deles são, às vezes, mais rigorosos que os seus.»

Desde então, já tive ocasião de comprovar a lição. Funciona. A Lava a Jato vai prosperar como nunca. Achar que doutor Moro é o único capaz de levar adiante uma operação dessa envergadura é fazer ofensa aos demais juízes. Que se cuidem os corruptos que já estiverem esfregando as mãos com a perspectiva da saída de doutor Moro. Perigam sentir saudades da mansuetude dele.