cópia
Verdade distorcida
José Horta Manzano
Precisa um pouco de tudo pra fazer um mundo: beleza, feiura, bondade, maldade, riqueza, pobreza. E assim por diante. Mas tudo tem limite. Além de um ponto de ruptura, a má-fé torna-se intolerável.
Neste 9 out° 2015, por volta de 11h manhã (hora de Brasília), os principais jornais do mundo estão dando, em manchete, a notícia quente: o nome dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz.
No mesmo momento, a Folha de São Paulo manda o Nobel pra segundo plano e prefere ressaltar a choradeira do presidente da Câmara, dedurado pelo banco que acolhia seus milhões.
Até aí, pode-se imaginar que a dessitonia não passe de escolha do editor. Não parece tão grave. A coisa começa a ficar esquisita quando se lê chamada informando que «cópia de passaporte de Cunha foi usada para abrir conta, diz banco suíço».
«Cópia de passaporte?» Como assim? O leitor distraído guarda a impressão de que o banco trapaceou, mostrando cópia de documento como prova de abertura de conta.
Imagino que no mundo inteiro os bancos sigam o mesmo procedimento de acolhida a novo cliente. Em todo caso, posso garantir que, na Suíça, bancos não costumam abrir conta na base de «cópia» de passaporte. O candidato se apresenta e exibe o documento original. Cabe ao funcionário tirar cópia do documento para arquivá-la no dossiê. É exatamente essa cópia que o banco juntou à documentação demonstrando que o presidente da Câmara tem conta naquela instituição.
Mas, sacumé, cada jornal apresenta a verdade sob as luzes que mais favorecem seus interesses.