Warum einfach? ‒ 2

José Horta Manzano

Conhece a história daquele sujeito que, tendo encontrado a esposa no sofá da sala com o amante, quebrou o sofá? Pois é, coisas assim também ocorrem na vida real.

Em 2008, numa Venezuela que ainda funcionava, señor Hugo Chávez mandava e desmandava. Num Brasil pré-Lava a Jato, muita gente ainda aplaudia o Lula, então aboletado no Planalto. No intuito de tirar os EUA do dia a dia da América do Sul, os dois mandachuvas concretizaram um velho sonho do pessoal da ala situada mais à esquerda: implantaram a Unasul. A organização, irmã-gêmea da OEA (Organização dos Estados Americanos), congrega todos os países independentes da América do Sul continental. Com uma característica significativa: exclui os Estados Unidos.

Mas o mundo gira e, de lá pra cá, muita coisa mudou. Pra começar, não se tem notícia de que algum benefício gerado pela nova organização possa justificar os gastos de seu orçamento. No palco político, Chávez morreu, a Venezuela foi pro buraco, o Lula mudou-se para a cadeia, a argentina Cristina Kirchner está a um passo da penitenciária, o equatoriano Rafael Correia foi apeado do trono. A base ideológica de sustentação da Unasul entrou em colapso.

No Brasil, na sequência da eleição, um dos filhos do presidente ‒ aquele que é deputado federal ‒ deve presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. A ambição do jovem é brilhar no campo internacional. Vai fazer tabelinha com doutor Araújo, ministro da área.

Doutor Eduardo Bolsonaro é aquele que passeou nos EUA levando, enfiado na cabeça, um boné com os dizeres «Trump 2020» ‒ coisa fina. Doutor Araújo é aquele que sonha em transformar nosso país em trepadeira parasita, daquelas que grudam no tronco da árvore maior e sobrevivem sugando-lhe gotas de seiva. (A árvore, o distinto leitor entendeu, são os EUA.) Com os dois à frente de nossa diplomacia, estamos bem arranjados.

O primeiro-filho vai valer-se da força que lhe dá a Comissão de Relações Exteriores para bombardear a Unasul. Pelo que tem declarado, vai agir como o sujeito que quebrou o sofá. Está convencido de que a organização criada por Chávez e pelo Lula é um ninho de perigosos esquerdistas. Pra pôr remédio, não lhe passou pela cabeça recalibrar a contratação e redistribuir as tarefas do pessoal. Prefere desmontar a organização, mandar todos embora, fazer tábula rasa. Em seguida, será erguida nova organização, segundo moldes idênticos aos da atual. Só que, desta vez, sem esquerdistas.

Warum einfach wenn es auch kompliziert geht?
Por que fazer simples, se complicado também funciona?
Máxima alemã

Reação tardia ou intencional?

José Horta Manzano

«A presidente Dilma Rousseff vai editar um decreto de programação financeira com bloqueio de R$ 10,7 bilhões em despesas discricionárias como água, luz, fiscalização da Receita, da Polícia Federal a partir de 1º de dez°. A decisão segue a orientação do TCU e põe o governo em estado de calote.»

Tricher 1Acabo de citar matéria do Diário do Poder. Se for verdade – e tudo indica que é – está aí a evidência de que nosso Executivo sulca o Mar dos Sargaços, aquele atoleiro marinho que tanto assustou navegadores no século XVI. A água entorno está coalhada de algas traiçoeiras que perigam, a todo momento, se enroscar na hélice e paralisar a nave.

Teria o distinto leitor ideia do que sejam 11 bilhões de reais? Dificilmente. Tirando meia dúzia de terráqueos do tipo Bill Gates e Warren Buffett, essa quantia está fora de nosso referencial. A imagem mais aproximada é a de um quarto cheio de notas graúdas. Do chão ao teto.

Em vez de cortar na própria carne, como seria razoável, dona Dilma decidiu cortar em carne alheia. Não cogita dispensar funcionários supérfluos nem extinguir boquinhas tão apetitosas quanto inúteis. O corte será feito em despesas essenciais como água, luz e… Polícia Federal. É sintomático.

Tricher 2Embaixadas e representações brasileiras no exterior já foram avisadas que a torneira secou. Como todos sabem, dona Dilma, alérgica a relações exteriores, considera inútil toda despesa feita nesse ramo. A menos que se destine a ditaduras companheiras naturalmente.

Já a diminuição de verbas da Polícia Federal não é de natureza ideológica – o buraco é mais fundo. Dona Dilma há de supor que a supressão de verbas vá frear o ímpeto da PF. Os do andar de cima andam apavorados com a ideia de não mais serem os eternos vencedores do jogo de cartas marcadas ao qual se acostumaram estes últimos anos.

Ói ele aí de novo, gente!

«A mentira no debate político é recurso habitual dos líderes do Foro de São Paulo, clube bolivariano do qual o senhor Garcia é sócio-fundador. Ele tem o título de Assessor Internacional da Presidência. De fato, é ele, e não a presidente, quem conduz a diplomacia brasileira: daí a relevância do embuste.»

Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado da República. A declaração, publicada pelo Estadão, foi dada na esteira da humilhação assestada aos parlamentares brasileiros que se deslocaram a Caracas dois dias atrás. O senador refere-se a Marco Aurélio «top-top» Garcia.