A boa e velha corrupção

Ruy Castro (*)

É verdade que, de tempos em tempos, o país acorda para o esculacho e se deixa seduzir por um moralista, que promete varrer a sujeira, caçar os marajás ou acabar com os 300 picaretas do Congresso.

janio-4Daí Jânio Quadros (1960), Fernando Collor (1989) e Lula (2002). Eleitos esses elementos, o que acontece? A vassoura toma um porre, o caçador de marajás revela-se o marajá-açu e o outro resolve governar justamente com os 300 picaretas, ampliados para 400.

(*) Ruy Castro (1948-) é escritor, biógrafo, jornalista e colunista. Este é trecho de artigo publicado em 4 jan° 2017.

300 + 1

José Horta Manzano

Chamada do Estadão, 11 set° 2015

Chamada do Estadão, 11 set° 2015

Não vejo motivo para espanto, que não é só deputado que advoga em nome de outros. Tem até ex-presidente(!) que se tornou lobista de construtora. Que faz um lobista? Defende os interesses de seus mandantes.

Se faltava encontrar o elo entre nosso guia e os «300 picaretas» que ele um dia denunciou, não precisa procurar mais: a conexão agora está clara. São 300 picaretas… mais um.

Os picaretas

José Horta Manzano

Muitos anos atrás, um personagem da vida política declarou que o Congresso brasileiro era uma espécie de antro em que vadiavam «uns 300 picaretas». Talvez você se lembre quem disse isso. Eu esqueci.

Pode até ser que que o figurão tivesse razão. Aliás, nos tempos em que pronunciou sua frase lapidar, ele mesmo se candidatou ― e foi eleito ― deputado federal. Aconteceu na época em que foi preparada, temperada, cozinhada e servida ao bom povo a fabulosa ‘constituição-cidadã’ de 1988, ainda hoje em vigor. Com algumas centenas de correções e ajustes, naturalmente.

A seu favor, diga-se que o incriminador da picaretagem não teve atuação destacada na elaboração da Lei Maior. Por certo, havia de ter outras preocupações pela cabeça, que ninguém é de ferro.Picareta

Não me lembro se a constatação foi exprimida antes ou depois de ele ter sido eleito parlamentar. Pouco importa. Não consta que tenha jamais desmentido sua visão do Executivo, o que nos leva a crer que, até hoje, mantenha sua opinião. Está aí um homem de convicções firmes!

Infelizmente, estes últimos anos, numerosos indícios têm corroborado a afirmação do mandachuva. Ainda estes dias, houve troca de cadeiras em nosso parlamento tupiniquim. O recém-eleito presidente do Senado Federal, terceiro personagem na linha sucessória da presidência da República(!) , é alvo de processos criminais.

Um outro personagem, já condenado criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal, acaba de assumir o cargo de deputado que lhe cabe. Com toda a pompa e a dignidade que lhe são devidas.

Para coroar, acabamos de tomar conhecimento da decepção de um nobilíssimo representante do povo, por acaso o deputado federal mais votado do País nas últimas eleições. Antes de ser levado pelos braços do povo à Casa dos Representantes, exercia o ofício de palhaço.

Tiririca quer voltar ao antigo mister. Era de esperar. A sabedoria popular, em sua secular erudição, sempre profetizou: cada macaco no seu galho. Tudo indica que fazer palhaçada é mais gratificante que fazer picaretagem. Talvez até mais rendoso.

Que ninguém mais acuse os parlamentares brasileiros de fazerem palhaçada! O nome do jogo é picaretagem. No duro.

Para quem esteve em cura de sono estes últimos dias e perdeu a notícia, aqui está a reportagem da Folha de São Paulo, que não me deixa mentir.