Aprovação presidencial

José Horta Manzano

O Brasil é um poço de problemas. É um pote até aqui de injustiça, desigualdade e desesperança. Como resolver? Nada é impossível, mas a tarefa é gigantesca. Seria coisa pra duas ou três gerações. Essa conta só vale se houver verdadeira vontade. Como sabemos, verdadeira vontade não há. Portanto, nada vai começar a mudar. Vamos continuar esperando o messias, que esse que está aí não serve.

Toda e qualquer tentativa de esvaziar o poço de problemas e de elevar o nível civilizatório das gerações futuras passa obrigatoriamente pela educação. Não é razoável nem necessário exigir que todos recebam formação acadêmica; escola fundamental já está de bom tamanho, desde que a instrução seja de boa qualidade.

Se alguém ainda duvidava que uma pessoa instruída enxerga o mundo com outros olhos, eis um cala-boca: a mais recente pesquisa do Instituto Atlas. A sondagem, que acaba de ser publicada, constata que 56% da população reprova a atuação do presidente Bolsonaro, enquanto 40% a aprovam.

Esse é o número total, o somatório de todos os entrevistados. Veja agora a diferença que um pouco de estudo faz na capacidade de entendimento de cada um. Dos que fizeram curso superior, 70% reprovam o presidente, enquanto 30% aprovam (ou não respondem). Na outra margem, entre os que não foram além do ensino fundamental, as proporções praticamente se invertem: 60% o aprovam, enquanto 40% desaprovam (ou não sabem).

O distinto leitor sabe que o doutor é um estropício, uma pedra no caminho do Brasil, um prenúncio de tempos ainda mais difíceis que os atuais. Mas essa clareza de visão é privilégio de quem recebeu boa formação – aquela que abre as portas para a boa informação.

Nos tempos do lulopetismo, ainda havia a desculpa da ideologia – muitos se recusavam a admitir que os elevados ideais eram anulados pela vil roubalheira. Hoje, essa desculpa desapareceu. Ideologia não há, o que há é a ignorância rasteira de um governo que está mais para associação mafiosa. Só não se dá conta quem não consegue.

4 pensamentos sobre “Aprovação presidencial

  1. Em 2018, antes da campanha eleitoral presidencial, a rede Globo de televisão realizou uma pesquisa em âmbito nacional para conhecer as prioridades dos eleitores. Palpitaram moradores das cidadezinhas mais remotas do país, assim como os dos grandes centros urbanos. Como era de se esperar, deu na cabeça: educação e saúde. Claro que a média da opinião dos eleitores não significa nada, quando estão ausentes os indicadores de região, classe social e nível educacional. Mas cabe perguntar mesmo assim: por que não aconteceu uma profunda revolta popular (como a de 2013) quando surgiram os primeiros sinais de que as duas metas jamais seriam alcançadas por este governo? Não conheço todas as respostas, mas posso apostar que a dependência financeira de uma imensa parcela da população faz calar o desejo de evolução para uma sociedade mais bem informada, combativa e mais justa. A fome não deixa o cérebro funcionar direito, não é mesmo?

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    • Analisar a situação é para especialistas, não para mim. Assim mesmo, é permitido supor que esses cidadãos que desejavam melhora na Saúde e na Educação estão satisfeitos. Daí a não eclosão de movimentos de rua.

      Talvez as falhas de formação que castigam grande parte da população estejam impedindo esse mesmo povo de entender que belas palavras não substituem a solução que estavam esperando.

      A falta de estudo acentua a ingenuidade – razão pela qual, desde sempre, os poderosos vêm cerceando o acesso à instrução. É mais fácil trabalhar com ingênuos.

      Pra exemplificar, não precisa nem voltar aos tempos do Lula. Ainda outro dia doutor Bolsonaro declarou «Estamos vencendo a pandemia». E um terço dos eleitores concordou. Alguns devem até estar festejando, com rojão, a boa-nova. Não porque sejam bolsonaristas, mas porque são incultos e, principalmente, ingênuos.

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      • Um dado alarmante e que pouca gente conhece é que mais de 60% do eleitorado brasileiro é composto por pessoas de classe média/média baixa e de baixo nível educacional. São elas, portanto, que decidem qualquer eleição. O que me espanta é que muitos jovens da classe C (classe baixa) tiveram acesso à universidade pela primeira vez nos governos Lula e Dilma, o que lhes possibilitou acesso a empregos mais bem remunerados também – e, aparentemente, abriram mão de lutar pela continuação dessa conquista em nome do “combate à corrupção” e à canalha marxista prometidos por Bolsonaro.

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        • Isso parece indicar que, sem uma boa formação de base, os cursos ditos “superiores” não escapam à mediocridade. De superiores, só têm o nome.

          Se bastasse inaugurar ‘faculdades’, estaríamos hoje mais próximos da solução do que antes do (interminável) inverno lulopetista. Não estamos.

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