José Horta Manzano
‒ Você viu que o Lula quase foi preso hoje?
Era meu velho amigo Sigismeno. Fazia tempo que a gente não se encontrava. Como de costume, ele não disfarçava certa malícia, perceptível lá no fundo dos olhos.
‒ Quase preso, é, Sigismeno?
‒ Pois é. Parece que ontem um desses chamados blogues sujos preveniu que o homem perigava ser preso nesta segunda de manhã. Vai daí, as redes sociais propagaram a boa-nova e verdadeira multidão acorreu às portas do triplex ‒ perdão, do duplex! ‒ pra assistir ao espetáculo.
‒ Foi muita gente, é?
‒ Ih, nem fale. Tinha mais de 20 pessoas.
‒ E, afinal, o moço foi preso ou não?
‒ Qual nada! Continua à espera do japonês da Federal.
‒ Ué, então por que é que esse tal de «blogue sujo» inventou a história? Falando nisso, que quer dizer «blogue sujo», Sigismeno?
‒ Bom, blogue sujo é expressão que se usa hoje em dia pra designar blogues que se supõe sejam custeados pelo erário, em outras palavras, com nosso dinheiro, o seu e o meu.
‒ Nossa, eu nem imaginava que existisse uma coisa dessas. Quer dizer que é mesmo verdade que esse povo se sustentou lá em cima à custa de nosso dinheiro?
‒ Pois é. Dizem que nosso dinheiro foi parar onde não devia. Mas deixa responder à sua outra pergunta.
‒ Ah, é mesmo, Sigismeno. Por que é que inventaram a história? Só pra botar o Lula nas manchetes?
‒ Não, não acredito. Se, além de ser sujo, um blogue começar a divulgar notícias falsas, aí fica desacreditado de vez. A razão é outra.
‒ Você não tem emenda, Sigismeno, sempre misterioso… Conta logo, vá.
‒ É simples. Você tem visto que, antes de cada nova fase da Lava a Jato, algum vazamento acontece. Aquela do Mantega, por exemplo, que decidiu levar a esposa no meio da madrugada para uma endoscopia. E foi de boné para esconder o rosto. Ficou evidente que alguém tinha avisado, né?
‒ É, eu me lembro. O vazamento tirou o impacto da operação e quase botou tudo a perder. Como será que vazou?
‒ Pois é exatamente esse o ponto. Os procuradores não tinham a menor intenção de mandar prender o Lula nesta segunda. Mas espalharam a notícia a algum setor do grupo do qual desconfiavam particularmente.
‒ E daí?
‒ Vai daí, deu certo, caro amigo! O(s) elemento(s) infiltrado(s) fazem parte do grupo que tinha sido avisado sobre a captura do Lula. A partir de agora, o cerco vai-se fechando. Já sabem onde é que tem torneira pingando.
‒ É, a manobra foi esperta. E como você acha que vão proceder daqui para a frente?
‒ Acredito que ainda vai haver outros alarmes falsos para testar outros setores e outros departamentos. Assim, vão descobrindo e eliminando torneiras que pingam. No dia em que o Lula for preso, vai ser surpresa total. Nada vai vazar antes, pode acreditar.
‒ É, Sigismeno, acho que você tem razão. Bobos é que eles não são lá na Lava a Jato. Vão comendo o mingau pelas bordas.
Bem-vindo de volta, Sigismeno! Já estava mesmo com saudades da sua perspicácia.
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