Minha casa, meu barraco

José Horta Manzano

Vi ontem uma foto aérea de um conjunto habitacional versão «Minha casa, minha vida». Fica em Imperatriz, no Estado do Maranhão. Que tristeza, minha gente!

Imagem Estadão, 16 jul° 2016

Imagem Estadão, 16 jul° 2016

A panorâmica mostra cerca de mil residências, todas rigorosamente iguais, alinhadas como num acampamento de refugiados de guerra. A cor ocre é uniforme. O verde simplesmente não existe, o que dá ao conjunto um aspecto lunar. Não há o esboço da suspeita do rascunho de um arbusto.

A gente fica na dúvida se o espetáculo melancólico é fruto de falta de imaginação ou de descaso. Fica a desagradável impressão de que, na cabeça de quem projetou aquele horror, está a certeza de que «pra quem é, goiabada basta». Nos tempos de antigamente, costumava-se usar esse refrão pra avisar que, pra receber visita simples, humilde e de baixa extração, ninguém precisava vestir roupa de domingo.

by Charles Samuel Addams (1912-1988), desenhista americano

by Charles Samuel Addams (1912-1988), desenhista americano

Será que os brilhantes idealizadores do projeto não são capazes de bolar, digamos, meia dúzia de diferentes modelos de habitação? Que tenham todos a mesma área, pouco importa. Mas que tenham pequenas variações e que sejam misturados aleatoriamente, nem que seja pra quebrar esse aspecto de acampamento militar. Variar a cor das fachadas tampouco sai mais caro. O custo de tinta verde não deve ser muito diferente do custo de tinta amarela, azul ou cor de abóbora.

Fica a impressão de obra feita de má vontade, pra cumprir tabela. Pra quem é, goiabada basta.

2 pensamentos sobre “Minha casa, meu barraco

  1. Na minha casa, a máxima utilizada era um pouco diferente: “Pra quem é, está de bom tamanho”. Minha mãe a repetia sempre que me pedia para fazer algum trabalho doméstico de que eu não gostasse, ou não fosse muito hábil – tipo lavar uma panela ou cozinhar.
    Lembrei também do ditado de que não se deve dar pérolas aos porcos. É muito provável que “nossazelites” e nossos dirigentes (mesmo os comunistas, como o atual governador do Maranhão) pensem exatamente assim. Quem vive à beira de esgoto, lixo, e convive com ratos e baratas, pó, madeira carcomida, etc. não deve ter a sensibilidade necessária para apreciar a natureza e as diferenças. É pena. Me dá uma tristeza profunda saber que ainda não saímos da idade média.

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  2. É revoltante o descaso com o cidadão brasileiro do programa Minha Casa Minha Vida e a grande roubalheira que representa. Não teria custado nada a mais se a execução do programa tivesse exigido dos construtores, ganhadores da concorrência, um plano urbanístico, arquitetônico e ambiental.

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