Este blogueiro é do tempo em que telefone servia para telefonar. Li ontem que um dos integrantes da equipe que venceu o Campeonato Mundial de Futebol de 1970 declara ser proprietário de um burrofone ‒ em bem-humorada contraposição ao smartphone.
Jamais ganhei campeonato, nem mesmo de bolinha de gude. Ainda assim, me solidarizo com o simpático futebolista. Persisto na antiga convicção de que telefone serve para telefonar, mais nada.
Não adotar modernidades não significa necessariamente menosprezá-las. Acredito que, para a maioria dos viventes, celular no bolso seja objeto tão importante quanto era um pente Flamengo para os jovens de cinquenta anos atrás. In-dis-pen-sá-vel, no duro.
O uso do aplicativo uótisápi ‒ nome cuja grafia já está devidamente aportuguesada para WhatsApp ‒ está suspenso no Brasil. A decisão monocrática foi tomada ontem por obscuro juiz sergipano.
Como não sou usuário, a decisão não me alcança diretamente. Mas não deixa de despertar questões importantes, quase filosóficas. Fico imaginando se, por absurda hipótese, na era pré-celular, quando a rede telefônica era o único meio de comunicação imediata, alguém ousasse tirá-la do ar, nem que fosse por 24 horas.
Daria quebra-quebra e até tanques nas ruas, como se usava na época. Decisões de Justiça costumavam ser mais ponderadas, mormente em matéria importante e abrangente como a comunicação entre cidadãos.
Fica a nítida impressão de que o mundo evoluiu e a lei tem dificuldade em correr atrás. Seja qual for o motivo da suspensão, o caminho não pode ser a punição a todos os usuários. Leve-se em conta que o aplicativo é utilizado não só para conversa de namorado, mas também em correspondência comercial.
O Brasil, já fragilizado por ruinosa rapina e insuportável desastre administrativo, não precisava de mais essa. É urgente que se regulamente o alcance de decisões judiciárias dessa magnitude. Os meios de comunicação mudaram e a legislação tem de levar esse fato novo em consideração.
Delicia de nostalgia telefone preto e pente Flamengo! Bem melhor do que a nossa atual dependência das novas tecnologias.
CurtirCurtir