José Horta Manzano
Como todo o mundo, meu amigo Sigismeno ficou sabendo da bomba caseira atirada na área externa do escritório do Lula. Falo daquele comitê político que leva o pomposo título de instituto.
Sigismeno é desconfiado por natureza. Costuma ficar com um pé atrás quando algo lhe parece ilógico. «C’est trop beau pour être vrai» – é bonito demais pra ser verdade, filosofa ele como os franceses.
Meu amigo aprendeu que todo crime tem de ter um móvel. Com ares de magistrado romano, pergunta: «Cui prodest?» Quem tira proveito do crime? Quem lucra com ele?
Tivesse sido para ferir funcionários, não teriam atirado o artefato às dez da noite, mas no horário comercial. De que serve detonar bomba cheia de pregos quando não há ninguém por perto?
Tivesse sido para destruir ou danificar seriamente o prédio, a potência teria de ser bem superior e o engenho não precisava estar recheado de pregos.
Tirando essas duas motivações, o que é que resta?
A multidão que se opõe ao Lula e a todo o atraso que ele representa é cada dia mais encorpada, é verdade. Assim mesmo, Sigismeno não acredita que algum oponente cometeria a tolice de jogar bombinha no jardim de nosso guia, na solidão e no escurinho da noite, só pra ver a notícia passar no Jornal Nacional.
Depois de analisar com afinco, meu amigo acha que matou a charada. Segundo ele, essa história estranha leva jeito de ser ideia de marqueteiros.
O partido do Lula é contumaz adepto da tática de vitimização. Num momento em que tudo e todos acusam o ex-presidente de ser o patrocinador-mor de cataratas de corrupção, uma bombinha caseira pode, por um ou dois dias, desviar a atenção da galeria. Um distraído pode até achar que são artes de algum louro de olhos azuis…
Como de costume, o que Sigismeno diz pode até ser verdade. Que cada um forme sua opinião.
Também acho. Eu me admiraria se surgisse (neste exato momento político) um artefato mais ameaçador para o SuperLula do que a kriptoatônita atuação da Dona Dilma.
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