José Horta Manzano
Todos os jornais, todos os sites de informação, todas as emissoras de tevê, todos os blogues e todas as redes sociais repercutiram a notícia de uma moça que, durante um jogo de futebol, chamou de macaco o goleiro do time adversário.
Não entendo bem por que insultar alguém em razão de sua cor de pele seria mais grave do que injuriá-lo por defeitos morais que não lhe correspondem ― «juiz ladrão!», por exemplo.
No meu entender é tão pesado chamar um preto de macaco como chamar um ruivo de foguinho ou um loiro de branquelo ou descamado. Acusar injustamente o árbitro de ladroagem parece-me tão grave quanto. Pior ainda, é insinuar, aos brados, que a genitora de um jogador é profissional do sexo. Tenho real dificuldade em entender por que umas ofensas passaram a pesar mais que outras. Como dizia o outro: mudou o mundo ou mudei eu.
Todos os jornais, todos os sites de informação, todas as emissoras de tevê, todos os blogues e todas as redes sociais repercutiram a notícia de a ofensora, que se escafedeu, estar sendo aguardada para depoimento. Soube-se também que, com uma tijolada, um vizinho quebrou uma vidraça da casa da xingadora.
Nenhum dos jornais, dos sites de informação, das emissoras de tevê, dos blogues, nem das redes sociais condenou o gesto do irado vizinho. O malfeito passou em branca nuvem, como se legítimo e natural fosse.
Pois eu não vejo assim. Nosso civilizado ordenamento jurídico faz nítida distinção entre o ato não premeditado (espontâneo, impensado, súbito, inadvertido) e o ato premeditado (pensado, refletido, calculado, planejado).
O grito da torcedora, conquanto seja censurável e mereça sanção, não foi premeditado. Mas o do vizinho enraivecido é pior. Foi fruto de reflexão. A banalização de seu gesto nos aproxima da nefasta Lei de Lynch, em que cada um faz justiça com as próprias mãos.
É ladeira perigosa. Para evitar que a sociedade brasileira descambe, é preciso estigmatizar ambos os malfeitos: o insulto e a vingança.
Eu concordo em gênero, número e grau com sua análise. Todo e qualquer xingamento é preconceituoso – e, portanto, odioso – na própria medida em que estende a toda uma classe uma determinada característica. Vejo, no entanto, uma diferença importante: há xingamentos que se referem a algo que não está no poder da pessoa alterar (ex: negro). Já no caso de “juiz ladrão”, essa é uma interpretação de quem xinga quanto a alguma coisa que o outro fez (ou não), mas que pode ser alterado a qualquer momento.
Já quanto ao desejo de vingança, não há escapatória: quem atira pedras no xingador é duplamente preconceituoso e hipócrita. Projeta no outro a “Geni” que já foi útil um dia e que hoje precisa ser execrada por representar no inconsciente de quem atira a pedra a quebra de uma regra sagrada para ele (comercialização do sexo x comportamento politicamente incorreto).
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