José Horta Manzano
Levar uma vaia, taí uma coisa desagradável. Ninguém deseja isso nem a seu pior inimigo. Isto é… bem… hããã… é melhor mudar de parágrafo.
Desagradável ou não, ela está na moda mas ninguém quer saber de enfrentá-la. Todos fogem, uns discretamente, outros na caradura.
Nossa presidente, escaldada pelos apupos de que foi alvo na cerimônia de abertura, anunciou, num primeiro momento, que pretendia peitar a multidão e se apresentar na final da copinha destemidamente in personam. Com os acontecimentos quentes que se seguiram àquele dia, ela mudou logo de ideia. Pelo menos, teve o mérito de ser clara: disse que tinha decido não ir. E pronto.
Já um antigo presidente, escaldado meia dúzia de anos atrás quando dos Jogos Panamericanos, esgueirou-se como pôde. Mandou-se para a África. Preferiu guardar uma respeitosa distância de 10 mil quilômetros dos estádios ― que hoje têm o sugestivo nome de «arenas».
Os torcedores hão de ter sentido muita falta do antigo mandatário. Logo ele, que tinha batalhado tanto para que esse torneio se realizasse em território nacional… É realmente uma pena que obrigações imperativas o tenham retido tão longe do carinho do povo que tanto o adora. Uma pena.
Outros mandarins valeram-se de, digamos assim, «malfeitos» para estar presentes. Para chegar ao Rio de Janeiro, requisicionaram avião da FAB, que ninguém é de ferro. Discretos, confundiram-se com a multidão, julgando-se assim a salvo de olhares indiscretos. Tiveram de aprender de forma brutal que, nos dias de hoje, está cada vez mais difícil passar despercebido.
Etimologia
Vaia é termo que utilizamos para demonstrar desagrado com o desempenho de um artista no palco. Accessoriamente, costuma-se vaiar para mostrar descontentamento com a simples presença de determinada pessoa em determinado lugar.
Dificilmente alguém vaia sozinho. É mais comum que vaias partam de uma multidão ou, pelo menos, de um grupo consistente. É mostra de desagrado coletivo, bem mais temível que o aborrecimento de um indivíduo só. O antigo palco vem sendo substituído por «arenas» e por telões. Sinal dos tempos.
Embora não se note à primeira vista, vaia é palavra de origem onomatopaica, daquelas que tentam imitar o som original. Aliás, várias outras línguas se valem de onomatopeia para dar nome à vaia.
Os ingleses dizem to boo e os franceses huer. Os espanhois preferiram abuchar, derivado do grito com que chamavam falcões amestrados.
Os italianos não seguiram a norma. Preferem dizer fischiare, assobiar. Os alemães vão pelo mesmo caminho quando dizem auspfeifen, assobiar.
Mas a raiz de nossa vaia não está plantada em terras brasileiras nem tampouco lusas. Vem de mais longe.
O italiano moderno guarda o termo baia (báia), derivado do verbo baiare, já obsoleto. Usa-se sobretudo na expressão «dare la baia» a alguém, com o sentido de zombar dessa pessoa.
O francês costumava usava o termo baie com o sentido de engodo, enganação. A palavra caiu em desuso há mais de 100 anos.
A hipótese mais provável da origem de nossa vaia é uma onomatopeia, uma imitação do uivo dos cães. É parente do italiano abbaiare e do francês aboyer, ambos significando ladrar.
Políticos não temem a lei, mas abominam a vaia. Vamos em frente, brava gente: povo que vaia unido chega lá!
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Será que há vaias em japonês? Há gritos de ofensas, mas desconheço as existências do verbo vaiar ou do substantivo vaia na minha língua materna, certamente é pura ignorância minha. Vou pesquisar.
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Uma vez perguntei a minha professora de russo como se agradecia em russo. A resposta veio, fulminante: “Na Rússia ninguém agradece”.
Japão é outra coisa. Os japoneses são muito educados e respeitosos. Assim mesmo, encontrei, em romaji: yajiru e buingu. Em escrita corrente: ブーイング e やじる.
Dou-lhe sem garantia.
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