Dívidas, bolas & balas

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Notícia boa não vende jornal – todo empresário da mídia e todo jornalista sabe disso. Nada como uma boa desgraça para atrair leitor. Quanto mais dramática for, maior será o interesse de quem lê.

Isso vale não só para o Brasil, mas para o mundo todo. Na falta de cataclismas, nosso país tem sido lembrado, estes últimos dias, por problemas crônicos: finanças públicas, clubes de futebol endividados e balas perdidas.

Estatísticas 3O conceituado jornal francês Le Monde constata que, francamente, a «magia brasileira» já não funciona. Informa a seus leitores que a sétima economia mundial terminou o ano de 2014 com um déficit primário – fato que ocorre pela primeira vez desde 2002.

O jornal considera que o déficit deverá compelir dona Dilma a primeiro implementar medidas de recuperação das finanças públicas para, só então, pensar em retomada do crescimento.

Futebol 1A versão francesa do portal esportivo Yahoo revela alguns problemas do futebol profissional brasileiro. Segundo o artigo, os principais clubes brasileiros estão mergulhados num oceano de dívidas.

Na origem do problema, estariam má gestão e o momento economicamente difícil que o país atravessa. O portal conta que os doze times principais devem ao governo, em conjunto, mais de 600 milhões de dólares em impostos – praticamente o valor investido na renovação do Maracanã.

Crédito: Yann Arthus-Bertrand

Crédito: Yann Arthus-Bertrand

Finalmente, a RFI – Radio France International volta a repisar assunto pra lá de espinhoso: as vítimas inocentes de balas perdidas. O problema é grave e sua solução, problemática. RFI relata que 16 pessoas foram atingidas, no Rio, neste primeiro mês do ano. Os franceses ficam sabendo que a audácia dos bandidos aumenta a cada dia e que malfeitores já não hesitam em atacar delegacias implantadas nas próprias favelas.

Revela-se também que uma bala perdida pode percorrer até três quilômetros antes de matar alguém. Para o público francês é inconcebível que, no coração da metrópole maravilhosa, cidadãos comuns possam diariamente ser vítimas de tiros.

Na Síria, no Iraque, no Afeganistão, ainda vá lá. Mas no Rio…

 

Falam de nós – 3

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

A desgraça de uns…
Os danos causados pela seca que assola boa parte do território brasileiro não se resumem à falta d’água para consumo humano. A região cafeeira do Brasil, situada dentro da zona climaticamente perturbada, também se ressente do desregramento climático.

O Brasil é o maior produtor mundial de café. A safra 2014-2015 foi afetada pela ausência de chuva, fato que causou aumento de preço da rubiácea no mercado mundial. Prevê-se que a safra 2015-2016 vá pelo mesmo caminho.

Café 2Quem ganha com isso são os demais países produtores. Entre eles, a Etiópia – mencionada em reportagem do Portal RFI (Radio France Internationale). Este ano, as exportações etíopes cresceram 6% em volume e 34% em valor justamente devido à valorização advinda da raridade do produto.

A Etiópia agradece a São Pedro.

Interligne 28aPiscina com suástica
A propagação da notícia da piscina catarinense azulejada com suástica ecoou mais fortemente em dois países: Alemanha e Israel. É compreensível.

Tanto o jornal israelense Haaretz quanto o alemão Bild deram destaque à bizarra notícia. (Já comentamos o assunto no posto Símbolos horizontais.)

Interligne 28aRapina
A palavra, que significa roubo praticado com violência, é pouco utilizada no Brasil. Preferimos assalto. Tanto faz, o crime é o mesmo.

Assalto 1O Corriere Adriatico, jornal regional da Itália, traz a notícia do susto pelo qual passaram dois médicos italianos em visita ao Brasil. Tinham vindo participar do Congresso Mundial de Alergologia, no Rio de Janeiro. Um miniônibus, lotado com médicos italianos, foi assaltado, logo na chegada ao Rio, no caminho do aeroporto ao hotel. Assalto cinematográfico, com direito a arma apontada para a cabeça do motorista. O guia levou uma coronhada, e os médicos foram aliviados de seus pertences de valor – dinheiro, cartão de crédito, celular, relógio.

Benvenuti in Brasile!

Interligne 28aOlho vivo, chineses!
O Portal China Daily relata a formação que está sendo oferecida a representantes de companhias chinesas que tencionam se instalar no Brasil. Há muitas firmas na fila. Um grupo brasileiro especializado em aconselhamento de investidores estrangeiros está encarregado de informar e formar os principiantes.

Chinês 2Entre as dicas, os chineses aprendem que, no Brasil, o cipoal legal é denso. É imprescindível que todo contrato seja examinado por advogados e fiscalistas antes do jamegão.

Os potenciais investidores são também alertados para falsas promessas feitas pelos Estados. São incitados a tomar extremo cuidado com bondades do tipo terreno grátis, favores fiscais, aluguéis a preços de pai pra filho. Podem cair em cilada.

Interligne 28a

De coração

José Horta Manzano

Semana passada, o Hospital Georges Pompidou, de Paris, realizou uma façanha sem precendentes. Implantou, num paciente com insuficiência cardíaca terminal, um coração artificial permanente.

Já houve casos de enxerto de coração artificial. Mas todos eles eram provisórios, solução de curta duração, à espera do órgão de um doador falecido. Esta foi a primeira vez que um coração artificialmente fabricado foi introduzido em caráter permanente em lugar do órgão doente. A mídia francesa tocou todos os sinos e todas as buzinas do país. No Brasil, curiosamente, a notícia não foi divulgada pelos grandes jornais. No entanto, se der certo, terá sido um grande passo no campo da cirurgia torácica.

Milhares de pessoas morrem a cada ano à espera de um transplante de coração. Ficam na fila, mas sua vez não chega a tempo. Doadores são raros, a compatibilidade não é automática, a distância e as condições de transporte entre a retirada do órgão e a inserção no doente podem representar uma barreira. Um feito como o da semana passada não dá voto a ninguém, mas representa uma esperança de sobrevida para muita gente.

Coração artificial - Crédito: Société Carmat

Coração artificial
Crédito: Société Carmat

Este coração artificial é recoberto por uma membrana ― o pericárdio ― que «tapeia» o organismo e reduz o risco de rejeição. O órgão é inteiramente controlado por computador capaz de detectar momentos em que o ritmo das pulsações deve ser acelerado e, ao contrário, períodos em que a frequência precisa ser diminuída ― durante o sono, por exemplo.

Há ainda um lado psicológico importante. Ao carregar prótese feita de material artificial, o transplantado não sofre o peso emocional de abrigar um pedaço do cadáver de um falecido. Não é difícil imaginar que isso possa ser, para certas pessoas, um fardo dificil de arrastar.

O mundo ficou boquiaberto quando, em dezembro de 1967, ficou sabendo que um certo doutor Christiaan Barnard (1922-2001), médico sul-africano, havia feito o primeiro transplante cardíaco. Foi um abalo equivalente ao pouso de um astronauta na Lua ― fato que só se daria um ano e meio mais tarde.

Para apurar remédios imunuodepressores, foram necessários muitos anos. Hoje, embora sejam bem mais eficazes que 45 anos atrás, ainda representam um peso para todo transplantado. Limitar seu uso é uma vantagem considerável.

Resta esperar que as pesquisas continuem e que, dentro de breve tempo, doentes não precisem mais passar anos à espera do falecimento de um doador compatível.

Artigo do jornal Le Monde (em francês)
Artigo de Radio France Internationale (em português do Brasil)