Para a felicidade geral da nação

José Horta Manzano

Quando se pergunta a qualquer candidato a posto político a razão pela qual quer ser eleito, a resposta, invariável, é o desejo de ser útil à sociedade, de contribuir para a felicidade geral da nação. É resposta batida. Quase 200 anos atrás, Pedro de Alcântara, ainda príncipe regente, já tinha tirado essa sacada da algibeira no Dia do Fico.

De tanto ouvir a mesma resposta, a gente chega quase a acreditar. É emocionante constatar a existência de tanta gente desprendida e generosa, disposta a dar de si e a sacrificar-se pelos conterrâneos. Uma meiguice.

Gato, quando se esconde, costuma esquecer o rabo de fora. É natural, o bichinho é gato. Ele não tem nem noção de ter cauda, imagine se vai agora pensar em ocultá-la. É complicado, dá pra entender.

O que dá menos pra entender é o comportamento de certos políticos. Constato, que, assim como o gato esquece fora o rabo, candidatos deixam transparecer, em certas ocasiões, um naco de personalidade que apreciariam fosse mantido encoberto.

Crédito: IbaMendes.com

Crédito: IbaMendes.com

Volta e meia se lê que o candidato A acusa seu adversário B de ter «copiado» ou, pior, «roubado» seu programa ou parte dele. É atitude reveladora de duas qualidades pouco elevadas.

Em primeiro lugar, mostra soberba. O reclamante parte do pressuposto de ser ele o único a enxergar problemas e a encontrar solução adequada. Não reconhece nos adversários capacidade para apontar as mesmas mazelas e descobrir boa solução. Haja arrogância!

Em segundo lugar, desmonta o anunciado anseio de ver desabrochar a felicidade entre seus concidadãos. Mostra que, por detrás da fachada de nobreza e altruísmo, ferve intenso o desejo de alçar-se ao poder. No fundo, não é a miséria alheia que o comove ― é, antes, a cupidez que o move.

Leio, pela enésima vez, que o entourage de um dos candidatos denuncia o adversário por plágio de seu programa. E mostra-se inconformado. Não devia. Se o desejo do candidato A de ver crescer a felicidade geral fosse sincero e pra valer, ele se alegraria ao saber que, ganhe ele ou o adversário, o vencedor será o povo.

Quando a esmola é muita, o santo desconfia. Ainda está pra aparecer candidato que ponha os interesses do eleitor antes dos seus próprios.

Na prática…

… a teoria é outra.

José Horta Manzano

Apareceu estes dias uma notícia surpreendente: o Partido Socialista Brasileiro deu-se conta, de repente, de que a plataforma de seu candidato à presidência da República ― um certo senhor Campos ― diverge consideravelmente do programa partidário.

Impensável em países onde a política é bem estruturada, essa situação não comove ninguém no Brasil. Plataforma política se adapta aos ventos do momento. Não combina com o programa do partido? Que não seja por isso: modifique-se o programa. É exatamente isso que a mencionada agremiação política fará nas próximas semanas.

Proletários de todos os países, uni-vos!

Proletários de todos os países, uni-vos!

Realmente, não fica bem, em pleno século XXI, um programa de partido pregar a «socialização dos meios de produção». Soa pra lá de démodé. Chega a ser patético no ponto em que propõe a eliminação de «um regime econômico de exploração do homem pelo homem».

O manifesto do partido atinge o ápice do irrealismo quando preconiza a «transferência gradativa ao domínio social (entenda-se ao Estado) de todos os bens passíveis de criar riquezas». É mole?

Esse quiproquó vem demonstrar, se ainda fosse necessário, a inutilidade dos partidos políticos no Brasil. Visto o divórcio entre a teoria programática e a prática do dia a dia, os partidos são meros balcões de negócios onde uma revoada de indivíduos ― dentes longos e unhas afiadas ― disputam os bens da Viúva.