The lottery

José Horta Manzano

Faz alguns anos, o prêmio acumulado da Loteria Nacional Britânica estava pelas alturas. O ganho máximo seria de quase 58 milhões de libras, o que equivale atualmente a mais de 400 milhões de reais. O país estava em frenesi, os cidadãos fazendo fila, cada um querendo fazer sua fezinha. Uma loucura.

Um jornal publicou então um artigo desmancha-prazeres. De modo sádico, calculou que as chances de um apostador acertar na cabeça era de 1 em 45 milhões. Já começa a dar desânimo, mas o artigo não parou por aí. Comparou a probabilidade de ganhar o grande prêmio com a chance de sobrevirem outros acontecimentos raríssimos. Por exemplo.

  • Um cidadão tem maior probabilidade de ser atingido por uma peça desprendida de um avião (1 em 10 milhões) do que de acertar todos os números.
  • O risco de um canhoto sofrer um acidente fatal por ter utilizado mal um aparelho concebido para destros é de 1 em 4,4 milhões.
  • Ser atingido por um meteoro é muitíssimo mais provável do que ganhar na loteria: 1 probabilidade em 700 mil.
  • Ser eletrocutado por um raio e morrer é quatro vezes mais provável que acertar o prêmio grande (1 em 10 milhões).
  • Esta é pior: qualquer um de nós tem mais risco de morrer de infecção bacteriana do que ganhar na loteria (1 em 1 milhão).
  • Dar à luz quadrigêmeos idênticos também é mais provável do que acertar todas as dezenas (1 em 13 milhões).

Parece que até a chance de ganhar o Oscar é maior do que tirar a sorte grande. Só que, para chegar lá, é aconselhado estrelar primeiro um filme.

Façam as contas comigo

José Horta Manzano

by Kleber Sales/Estadão

Bolsonaro
Quantos apoiadores firmes terá Bolsonaro? Esqueçam aqueles que as pesquisas mostram como “satisfeitos” com o governo – a satisfação é temporária, e durará o tempo que durarem os trocados emergenciais. Esses não contam; são apoiadores de passagem. Quero saber quantos são os devotos, os incondicionais, aqueles que votarão no capitão sejam quem forem os adversários. Serão 20% do eleitorado? Admitamos que sejam 25%, e já estou sendo camarada.

Lula
Quantos apoiadores firmes terá o Lula? Esqueçam aqueles que só olham para nosso guia com certa simpatia porque acham que ele é infinitamente menos nocivo que Bolsonaro. Esses não contam; estão apenas querendo se livrar do capitão, eis por que aceitariam até o Lula. Quero saber quantos são os fãs de carteirinha, os incondicionais, aqueles que votarão no ex-metalúrgico sejam quem forem os adversários. Serão 20% do eleitorado? Admitamos que cheguem a 30%, não mais.

E daí
Adicionando as estimativas mais otimistas, temos os 25% de Bolsonaro mais os 30% de Lula = dá 55%. E o resto? Pra fechar o cálculo, falta contar os 45% de eleitores que não são devotos de nenhum dos candidatos populistas. Em quem vão votar?

Quem souber entrar nesse vácuo, não tiver rabo preso demais e convencer o eleitor de que é o melhor antídoto contra o bolsopetismo(*) tem boas chances de ficar com a bolada.

O chato é que a vaidade e a cobiça vão levar muitos a tentar a sorte. Assim sendo, a proliferação de candidatos periga pôr tudo a perder. Os postulantes se neutralizarão mutuamente, numa verdadeira autofagia da terceira via. Quando o segundo turno chegar, vamos ter mesmo de escolher entre a peste e a cólera.

(*) Bolsopetismo
Neologismo que me agrada, por resumir a evidência: bolsonarismo e lulopetismo são farinha do mesmo saco. Dos dois líderes, é impossível dizer qual é o mais trapaceiro.