Homenagem a Stefan Zweig

José Horta Manzano

Você sabia?

Em 1934, pressentindo que um desastre terrível estava em gestação com a ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha, o intelectual Stefan Zweig decidiu deixar sua Viena natal e escapar antes que fosse tarde. Como judeu, o escritor, romancista, biógrafo, dramaturgo, poeta, jornalista e libretista Zweig só teria a perder se permanecesse na Áustria.

Fugiu para a Inglaterra, onde passou alguns anos. Nesse meio tempo, Alemanha e Áustria se fundiram numa só entidade, e a nacionalidade do pensador foi confiscada. Ele tornou-se apátrida. Para evitar o constrangimento e as agruras de não ter passaporte, requereu e obteve a cidadania britânica. Em 1940, no intuito de se afastar o mais possível de uma Europa conflagrada, emigrou para o Brasil, país onde já tinha sido bem acolhido anos antes.

Morte de Stefan Zweig
Recorte do Jornal do Brasil de 24 fev° 1942
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O afastamento forçado da terra natal, a destituição da nacionalidade originária, o agravamento da saúde da esposa, a desesperança com o desenrolar da guerra foram pesados demais para um Zweig já sexagenário. Amargurado e desiludido, suicidou-se por envenenamento em sua residência de Petrópolis em fevereiro de 1942. A esposa o acompanhou no ato desesperado.

Recentemente, o Brasil decidiu conferir ao intelectual, a título póstumo, a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul ‒ honraria mais elevada concedida a um estrangeiro. A embaixadora da Áustria recebeu, faz dois dias, a homenagem em nome do escritor falecido há 75 anos.

Como mencionei, Stefan Zweig tinha sido destituído de sua nacionalidade. Ao falecer, era detentor de passaporte britânico. Tecnicamente, a medalha deveria ter sido entregue ao embaixador britânico. Passando por cima desse «detalhe», a mídia austríaca se orgulha da homenagem prestada a um de seus filhos. Mais curiosamente ainda, o jornal alemão Hannoversche Allgemeine o apresenta como «deutsche Autor» ‒ escritor alemão.

Como dizia o outro, a derrota é órfã, mas a vitória tem muitos pais.

Amok
Fiz referência, faz ano e meio, a Amok, um dos romances mais conhecidos de Stefan Zweig. Clique aqui quem quiser conferir.

Lula, o Musical

Sérgio Dávila (*)

Casserole 1A peça de mais sucesso da temporada atual da Broadway é o musical político Hamilton. Com rap e hip-hop, parte da vida do primeiro secretário de Tesouro e um dos pais fundadores dos Estados Unidos, Alexander Hamilton (1755-1804), para falar da formação do país. O casal Obama já assistiu duas vezes, uma delas em sessão especial na Casa Branca.

Os acontecimentos da última semana no Brasil nos autorizam a pensar numa versão local, tropicalizada. Proponho a farsa Lula, o Musical ‒ Eu tô mandando o Bessias, a ser encenada em Brasília.

Será proibida para menores, pela fixação que o personagem principal tem na fase anal e por cenas explícitas de quebra de decoro. O tempo é o atual. O cenário é um sítio emprestado em constante reforma.

Os personagens principais:

O ex-presidente
No poder há 13 anos, tem relação de amor e ódio com as elites. Sente-se perseguido, ameaça virar Nero e incendiar tudo. Anda pelo palco arrastando um contêiner de tralhas que não tem onde colocar.

A presidente
Depende do personagem principal e o protege, numa relação simbiótica. Diz frases sem sentido nem fim. É ela quem manda o “Bessias” do subtítulo em missão delicada e nunca esclarecida.

Musica 3O juiz
Além de despertar ciúme (esse monstro dos olhos verdes), o mouro de Curitiba tem superpoderes. Entre eles o da escuta telefônica e o de mandar prender por tempo indeterminado. É o antagonista do personagem-título.

O prefeito do balneário
Mistura o típico malandro carioca com Justo Veríssimo, personagem de Chico Anysio que odiava pobre. Mora em Maricá, mas sonha com Petrópolis. É viciado em jogos.

Bessias
Na verdade, Messias. É o anjo exterminador do respeito às instituições democráticas. Entrega o salvo-conduto ao ex-presidente na cena que dá início ao musical.

Público pagante
Você.

Interligne 18h

(*) Sérgio Dávila, formado em Comunicação pela PUC-SP, é editor-executivo da Folha de São Paulo.