Receber dinheiro para morar na Suíça!

José Horta Manzano

Você sabia?

Na virada do século 19 para o 20, levas de imigrantes aportavam no Brasil com grande esperança de começar vida nova e garantir um futuro melhor aos filhos. Assim mesmo, não entrava quem quisesse. Era imperativo obter, antes de embarcar, o visto de entrada. Havia diferentes maneiras de conseguir o precioso carimbo no passaporte.

Era comum fazer-se contratar por uma das agências de imigração mantidas na Europa por particulares ou pelo próprio governo brasileiro. Optando por essa via, o imigrante já vinha com contrato de trabalho ou com a promessa de receber uma terrinha, geralmente situada distante dos centros habitados. De toda maneira, tinha o direito de trazer a família.

Confirmação de carta de chamada – 1912

Outro caminho, trilhado por aqueles que já tinham parentes ou conhecidos em nosso país, era a carta de chamada. O candidato à imigração exibia um convite recebido de parentes já estabelecidos no Brasil, que garantiam que seria acolhido e amparado. De posse do documento, obtinha facilmente um visto de reagrupamento familiar.

Tudo isso é hoje filme velho. Os fluxos migratórios se estancaram há meio século. Não se fala mais em lavoura de café nem em carta de chamada. Alguns gatos pingados ainda vêm ao Brasil, parte deles entrando, aliás, pela porta dos fundos. Mas essa questão fica para uma próxima vez. Hoje queria contar-lhes a inusitada iniciativa de um vilarejo suíço de montanha.

Vista de Albinen

Encarapitada na parte germanófona do Cantão do Valais, numa paisagem cinematográfica a 1300m de altitude, a pequena vila suíça de Albinen tem assistido, impotente, ao lento declínio da própria população. Sem nunca ter sido metrópole, o povoado já chegou a ter o dobro dos 240 habitantes atuais. A rarefação de residentes já foi fatal para a escola, que fechou por falta de alunos.

É verdade que, na temporada, muitos forasteiros visitam o lugar. Alguns mantêm até residência secundária. Mas não é isso que dá vida a um vilarejo. Quando os turistas se vão, parte das casas fica inabitada, numa tristeza de dar dó. Além disso, turistas pagam seus impostos no lugar onde residem e não em Albinen, o que não contribui para o erário do município.

Faz alguns meses, o prefeito reuniu os conselheiros municipais, fizeram as contas, e decidiram tomar uma iniciativa surpreendente. A ideia é oferecer boa quantia de dinheiro a quem quiser se mudar para o vilarejo. A população está convocada a votar daqui a dois dias. Se a proposta for aceita, o município dará, a fundo perdido, uma ajuda financeira de 25 mil francos (80 mil reais) a cada novo habitante adulto. E 10 mil francos (32 mil reais) a cada criança que vier junto.

Restaurante no vilarejo de Albinen

A generosidade exige contrapartida. Os novos habitantes têm de ter menos de 45 anos de idade. Terão de se comprometer a residir durante dez anos no vilarejo. Além disso, terão de investir pelo menos 200 mil francos (640 mil reais) na compra ou na reforma de uma casa. Caso decidam ir-se embora antes do aprazado, terão de devolver a ajuda inicial. Se ficarem, a dívida estará automaticamente quitada.

Os aldeães têm esperança de atrair casais com filhos em número suficiente para reabrir a escola. Os impostos municipais a serem pagos pelos novos habitantes deverá, em pouco tempo, cobrir os gastos da «contratação». E a construção (ou reforma) de casas e chalés movimentará o mercado de trabalho local. O futuro dirá se a iniciativa teve sucesso.

Aviso aos navegantes
Na Suíça, a autorização de residência para estrangeiros é de competência cantonal. Portanto, o município de Albinen não tem como contornar a lei. Só pode aceitar quem já for titular de uma autorização. Detentores de passaporte europeu conseguem facilmente permissão de residência: basta encontrar um emprego. Quanto aos não europeus, a conversa é outra. É quase impossível.

Falam de nós – 24

0-Falam de nósJosé Horta Manzano

Schwulen-«Therapie»
Causou surpresa a decisão judicial brasileira de permitir que se pratique terapia psicológica visando à conversão de orientação sexual. A eficácia dessa Schwulen-«Therapie» ‒ “terapia” homossexual ‒ é posta em dúvida por muita gente. De fato, faz 26 anos que a Organização Mundial da Saúde retirou oficialmente a homossexualidade da lista de doenças psíquicas. Assim sendo, é paradoxal tratar como doença uma orientação pessoal que doença não é. O portal alemão NTV discorre sobre o assunto.

Asilo para bilionários
De olho em estrangeiros endinheirados, um punhado de países da União Europeia oferece visto de residência aos que se dispuserem a investir na economia local. Cada Estado estabelece condições diferentes.

Chipre, o mais generoso, outorga, logo de cara, o passaporte do país aos afortunados. Portugal não chega a tanto, mas propõe o «visto dourado», que permite ao estrangeiro tornar-se residente no país. Para tanto, basta aplicar 500 mil euros no mercado imobiliário. Com isso, o forasteiro obterá permissão de residir por cinco anos em Portugal. Vencido o prazo, poderá solicitar o passaporte.

Em Chipre, o afluxo maior é de russos e ucranianos abastados. Já em Portugal, dominam os chineses, seguidos pelos brasileiros. Segundo a imprensa portuguesa, figurões envolvidos na Lava a Jato estão entre os beneficiados. Assim que a operação foi deflagrada no Brasil, vários deles investiram em terra lusa e solicitaram o visto dourado. O quotidiano lisboeta Expresso dá informação sobre a fila de corruptos que buscam asilo nas ribeiras do Tejo.

Passaporte chipriota

Reforma da ONU
Diversos chefes de Estado discursaram ontem no púlpito oficial da ONU, quando da abertura da sessão anual. Todos eles ‒ sem exceção ‒ pronunciaram discurso dirigido ao público do próprio país. Trataram de incluir algumas frases de efeito, com perfume internacional, mas o cerne da fala foi, sim, pensado para o povo que os elegeu. Assim fizeram Mr. Trump, Monsieur Macron, doutor Temer e todos os outros.

O diário alemão Handelsblatt passou por cima das platitudes da fala de nosso presidente. Reteve unicamente o choro tradicional (e inútil), repetido a cada ano, por meio do qual o Brasil clama por reforma da estrutura do Conselho de Segurança. Pouco importa o formato que o CS adquira após a reformulação desde que inclua o Brasil como membro permanente. Que se danem os outros.

Melhor esperar sentado, que de pé cansa.

«Pequenos juízes»
A estação de rádio estatal France Culture preparou uma série de quatro emissões, de uma hora cada uma, sobre os «pequenos juízes» que se levantam contra a corrupção. Faz um confronto entre os que oficiaram vinte anos atrás na Itália, quando da operação Mani Pulite ‒ Mãos Limpas, e os que ora promovem a Lava a Jato.

A série de programas esmiuça a paisagem político-policial brasileira para tentar descobrir quem é quem e que poder tem cada um desses atores. Uma coisa é certa: sobressai a imagem de um Brasil gangrenado pela corrupção.

ViaFauna
O portal francês Fredzone traz artigo interessante sobre a ViaFauna, uma start-up brasileira. Explica que a pequena empresa criou dispositivos capazes de antecipar, por meio de raios infravermelhos, a presença de animais na pista de estrada de rodagem. Considerando que animais são vítimas quotidianas de colisões ‒ que podem ser fatais tanto para os animais quanto para humanos ‒, os dispositivos de detecção representam novidade pra lá de bem-vinda.

Pilotos do Brasil
Ryanair, a maior companhia aérea europeia de baixo custo, está enfrentando problema importante. O ritmo infernal imposto pelos horários apertados deixa pequena margem para imprevistos. Quando, por um motivo qualquer, um avião atrasa, provoca reação em cadeia. Dezenas de aparelhos perdem o ritmo.

A legislação trabalhista não permite que pilotos ultrapassem um certo número de horas seguidas de trabalho. O resultado frequente é que, mesmo com autorização para decolar, aparelhos têm de permanecer no solo por motivo de o piloto já ter atingido o limite legal de horas de serviço.

Faltam pilotos. A companhia propôs um bônus aos que renunciarem a tirar férias. Ainda que acatada por todos, a medida não tapará o buraco. A empresa está em busca de novos comandantes. O Brasil é o primeiro país na lista de prospecção ‒ quem dá a notícia é o diário italiano Il Tempo. Quando a Varig foi pro espaço, os pilotos foram acaparrados por empresas da então emergente China. Agora acontece de novo. Quem se candidata?