Segunda urna

by Jacques Sardat (aka Cled’12), desenhista francês

José Horta Manzano

No passado, na época em que se podia chamar gentes e coisas pelo nome certo, o ministério que cuidava das Forças Armadas de um país se chamava Ministério da Guerra. Ainda que não houvesse guerra à vista, entendia-se que sua função era estar de prontidão para a próxima.

Na década de 1960, o Brasil seguiu a tendência mundial de substituir o nome desse ministério. A menção à guerra desapareceu. Hoje, em nosso país, seria o caso de pensar seriamente em ressuscitar a antiga denominação.

O atual ministro da Defesa, um general de nome Paulo Sérgio de Oliveira, fiel escudeiro do capitão, vem agindo como menino de recados. Suas palavras estão encharcadas de pensamento bolsonárico.


O general é o porta-voz informal do desespero presidencial. Tornou-se verdadeiro ministro da Guerra. Da guerra às urnas.


Suas investidas são praticamente diárias. A última saiu ontem. Trata-se de uma proposta capenga de aproveitar a votação de outubro próximo para testar a confiabilidade da urna eletrônica. A ideia é organizar uma votação paralela, com registro em papel. Em seções eleitorais selecionadas, o eleitor votaria duas vezes: uma vez na urna tradicional e uma vez pelo arcaico sistema com cédula de papel ou coisa que o valha.

A apuração seria a prova dos noves. A totalização da eletrônica teria que bater com o voto em papel. Agora imagine o distinto leitor. Em outubro, além do presidente da República, elegeremos deputados federais, senadores, governadores e deputados estaduais. Votar uma vez já não é tarefa simples. Imagine então votar duas vezes: o risco de se enganar é elevado. Suponha que, por infelicidade, o total dos dois sistemas não bata. Como é que fica?

Será o sinal verde para a balbúrdia. As redes ferverão. Bolsonaro fará pronunciamentos mais agressivos que de costume. Generais se pronunciarão. É o caminho para melar as eleições e dar um jeito de prolongar mandatos à espera de nova votação. Isso na melhor das hipóteses – as consequências podem ser ainda piores.

A armadilha é clara, só não vê quem não quer. Vamos torcer para que o TSE não ceda à pressão.

Ministério da Defesa

José Horta Manzano

Em 1999, a nomeação de doutor Élcio Álvares para o posto de ministro da Defesa causou frisson. Mal passados quinze anos do fim do regime militar, um civil chefiaria Exército, Aeronáutica e Marinha ‒ pela primeiríssima vez na história da República. Almirantes, brigadeiros e generais haviam de prestar continência a um civil! Uma revolução.

De lá pra cá, os espíritos estão menos toscos. Ainda assim, se um civil na Defesa é hoje visto como natural, esse civil tem de ser necessariamente do sexo masculino. Mulher comandando milico? Nestas terras de Santa Cruz, nem pensar!

No entanto, em terras menos pudendas, ninguém mais se espanta de ver alguém de saias dando instruções a fardados. No momento, dez países europeus têm uma mulher como titular do Ministério da Defesa. São eles: Espanha, França, Holanda, Alemanha, Itália, Albânia, Macedônia, Montenegro, Bósnia-Herzegovínia e Eslovênia.

Com a designação de Frau Viola Amherd para a chefia do Ministério da Defesa, com tomada de posse prevista para 1° de janeiro 2019, a Suíça entra para o clube. Serão onze países europeus.