José Horta Manzano
«Mãe, não quero comer espinafre. Quero batata frita!»
«Menino, chega de brincar! Agora é hora de fazer a lição de casa.»
«Não vamos entrar neste restaurante, que é careiro e faz comida ruim. Vamos àquele aí, do outro lado da rua. É bem melhor.»
«Recuse imitações! Prefira a marca tal!»
Quando se rejeita algo, é natural dar a alternativa. Não quero isto, prefiro aquilo. Recuso a situação assim assim, gostaria que fosse assim assado. É o que manda a coerência.
Meus distintos e perspicazes leitores já hão de ter reparado que o bordão «Fora, Temer» vem sendo repetido à exaustão estes últimos tempos. É da democracia. Cada um é livre de apreciar ou não este ou aquele homem político.
Por minha parte, cansado de ter assistido impotente, durante mais de 13 anos, ao Brasil escorrendo pelo ralo, sinto alívio ao ver que a malta de incapazes mal-intencionados sai de cena. Que o novo mandatário se chame João, Pedro ou Paulo, tanto faz. Que fique. Que se lhe dê tempo de mostrar a que veio.
Os que exigem a saída de senhor Temer teriam de propor a alternativa. Se não o fizerem, a palavra de ordem não fará sentido e não passará de slogan vazio. Quem não quer ver Temer no trono presidencial deveria declarar sua preferência. Sem Temer, quem fica?
Falando nisso, não se vê nenhum dos manifestantes propondo alternativa a senhor Temer, como mandaria a lógica mais elementar. Afinal, se o atual presidente é indesejado, que não se limitem os manifestantes a dizer o que não querem, mas que declarem o que querem.
Do jeito que está, fica a impressão de que, se os descontentes não apreciam o atual presidente, tampouco desejam o retorno da anterior. No fundo, aprovam a troca, só discordam do substituto. Ou será que alguém ouviu manifestante gritar «Volta, Dilma»? Curioso, não?