Talvez o distinto leitor e a graciosa leitora já tenham ouvido esta historinha. Mas sempre vale a pena ver de novo.
Um homem rico agonizava em seu leito de morte. Pressentindo o fim próximo, pediu papel e caneta, e escreveu:
DEIXO MEUS BENS A MINHA IRMÃ NÃO A MEU SOBRINHO JAMAIS SERÁ PAGA A CONTA DO PADEIRO NADA DOU AOS POBRES.
Mas morreu antes de fazer a pontuação. Para quem o falecido deixou a herança? Os pretendentes mencionados no testamento eram quatro.
1. A irmã foi a primeira a chegar. Pediu uma cópia do papel e pontuou assim:
Deixo meus bens a minha irmã, não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
2. O sobrinho veio em seguida e refez a pontuação:
Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
3. Chegou o padeiro e pediu cópia do original. Foi sua vez de pontuar:
Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
4. Por último, vieram os pobres da cidade. Um deles, sabido, fez esta pontuação:
Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.
A historieta mostra a importância da pontuação. Sem pontos, exclamações, vírgulas & companhia, o texto pode ficar ambíguo ou até confuso.
A historinha da herança, que corre há anos pelas redes, foi bolada justamente para divertir. A intenção do autor foi por certo provocar umas risadas do leitor.
Meu bom amigo Aldo Bizzocchi, que é doutor em Linguística e amante das letras, me enviou uma historinha que lembra a do testamento. Só que… é verdadeira! A chamada foi recortada do site de notícias G1. Aqui está:
De tão mal escrita, a frase pode até dar a entender que quatro filhos da infeliz senhora tenham sido mortos no tribunal. (Com a ousadia típica dos executantes ligados ao nascente narcoestado brasileiro, um quádruplo assassinato praticado dentro do Palácio de Justiça já não mataria ninguém de susto.)
Descartada a hipótese do acerto de contas na base da faca e da asfixia, resta ler e reler o texto para entender a intenção do autor. Na realidade, ele quis contar o caso todo em uma frase só – uma perda de tempo. Nem vou arriscar reescrever a chamada. Sob risco de criar uma frase incompreensível, é sempre melhor partilhar as ideias em duas ou três frases menores.
Sugere-se ao autor da chamada que pense nisso da próxima vez.




