Pra tirar a pedra do caminho

Carlos Chagas (*)

Lula caricatura 2As esquerdas foram para o poder com João Goulart, vendo-se postas para fora pelo golpe militar de 1964. O tempo passou, veio a democracia e o PT acabou de novo no governo, com Lula e, depois, Dilma.

Só que o país se encontra em frangalhos. Arrasado. São negados os princípios e ideais que levaram o PT ao poder. Ao contrário do que pregavam, eles suprimem direitos sociais, comprimem salários, aumentam juros, beneficiam a especulação e as elites, geram desemprego, elevam impostos, degradam serviços públicos, favorecem latifúndios e metem a mão nos dinheiros públicos.

Fizeram o oposto do que pregaram. Logo virá a revolta. E o que vamos fazer? Chamar a direita não dá. Afinal, é a receita dela que os companheiros aplicam.

by Lezio Jr, desenhista paulista

by Lezio Jr, desenhista paulista

Falta ao país um projeto acorde com as necessidades nacionais. Capaz de atender não apenas as massas, mas a classe média e a população em geral. Adianta pouco ficar atrás de outro partido para substituir o PT. São todos iguais, ou seja, incompetentes.

Nossa memória é curta, mas fica impossível esquecer o governo dos tucanos, quando Fernando Henrique ensaiou aquilo que Lula e Dilma, ironicamente, aplicam outra vez.

Que forças disporiam de condições para dar a volta por cima e de governar para a maioria? Não dá para pensar nos militares, já tiveram sua oportunidade e deu no que deu. Melhor pensar rápido ‒ quem sabe acionando as universidades?

Carlos Chagas é advogado, jornalista e radialista. O texto é excerto de artigo publicado no Diário do Poder.

Uma paisagem diferente

Carlos Chagas (*)

Voltaire tinha acabado de chegar a Paris. Jovem voluntarista, ao saber que o regente, Philippe d’Orléans, por medida de economia, decidira vender metade da real cavalaria, escreveu que, em vez de se desfazer dos cavalos, o soberano deveria livrar-se dos asnos que gravitavam ao redor do trono.

Passeando no Bois de Boulogne, o regente deparou-se com Voltaire e ofereceu-lhe uma paisagem por ele desconhecida: uma cela na Bastilha, com vista para a capital francesa.

Cisnes no lago do Bois de Boulogne by Auguste Grass-Mick (1873-1963), artista francês

Cisnes no lago do Bois de Boulogne
by Auguste Grass-Mick (1873-1963), artista francês

Depois de alguns meses, arrependido, Philippe mandou soltar o prisioneiro e ainda lhe outorgou uma pensão mensal. O irreverente crítico agradeceu, em carta, acentuando a satisfação pelo fato de o governo provê-lo de alimentação. Mas abria mão da hospedagem…

Não se deve interpretar os julgamentos pelo que eles não são. Os mensaleiros vêm sendo dispensados da hospedagem a eles oferecida e da inusitada vista de Brasília pelas janelas da Papuda. Parecem felizes por cuidar da própria alimentação…

Carlos Chagas é advogado, jornalista e radialista. O texto é excerto de artigo publicado no Diario do Poder, 2 jan° 2015.

Quantos milhares de votos voaram?

Carlos Chagas (*)

Conhecida parte da delação dos ladrões da Petrobrás, José Roberto Costa e Alberto Youssef, na tarde de quinta-feira, a pergunta que varre o país de Norte a Sul refere-se a quantos milhares ou até milhões de votos terá perdido a presidente Dilma Rousseff?

Quem quiser que faça as contas, mas se inusitados não acontecerem até o dia 26, Aécio Neves está eleito presidente da República. Não dá para livrar a cara de Dilma, bem como do Lula, muito menos do PT, diante do escândalo agora denunciado.

Avião 10O partido dos companheiros levava 3% de todos os contratos superfaturados de empreiteiras com a Petrobrás. PP e PMDB também participavam da lambança. Será possível que a presidente e o ex-presidente nada soubessem, com tanta gente envolvida? Por onde andou a Abin, encarregada de informar o chefe do governo? E o ministro da Justiça? Precisou a Polícia Federal investigar.

Vem muito mais chumbo grosso por aí. Quando o Supremo Tribunal Federal começar o julgamento dos políticos envolvidos na tramoia, assistiremos deputados, senadores, governadores e ministros serem transformados em réus. Os que tiverem sido reeleitos perderão o mandato. Quanto aos empreiteiros, serão expostos, junto com outros diretores da Petrobrás. Estarão abertas as portas da caverna de Ali Babá.

Carlos Chagas é advogado, jornalista e radialista. O texto é excerto de artigo publicado no Diario do Poder, 11 out° 2014.

Dona Mariquinhas e Dona Maricota

Carlos Chagas (*)

As duas velhinhas lá do subúrbio, viúvas e com os filhos criados, passam o dia se vigiando, empenhadas em tertúlias a respeito de que goiabeira é mais florida e dará melhores frutos, ou sobre que quintal está mais bem cuidado. Pela idade que alcançaram, são respeitadas no quarteirão. Mas não têm nenhuma importância para a vida da comunidade.

Assim parecem os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula. Não se passa uma semana sem que deixem de se agredir comparando suas goiabeiras e seus jardins. Artigos, entrevistas e comentários sucedem-se de uma para a outra velhinha, mas, convenhamos, apenas para que passe o tempo das duas. A vida sabe ser cruel.

(*) Carlos Chagas (1938-), jornalista, in Tribuna da Internet.

Frase do dia ― 38

«Todo mundo aplaudiu quando Jânio Quadros, naqueles tumultuados sete meses em que exerceu a presidência da República, nomeou um negro para embaixador do Brasil num país da África. Carlos Lacerda foi o único a protestar, lembrando estar vaga nossa embaixada na Suécia: “Vão nomear um lourinho para Estocolmo?”»

Carlos Chagas em sua coluna, in Diário do Poder de 2 nov° 2013, referindo-se à recente decisão da CCJ/Câmara de reservar quota para parlamentares negros.