Top names 2021

José Horta Manzano

O mundo está cada vez menor. É impressionante constatar a que ponto a velocidade dos meios de transporte encurtou distâncias. A rapidez da circulação da informação tem contribuído para essa sensação de que o planeta virou um povoado. Todo o mundo fica sabendo de tudo o que acontece. O alastramento de modas e modismos acaba uniformizando o gosto dos humanos.

Exemplos, há de monte. Hoje trago mais um. Dei uma espiada em duas listas de prenomes mais atribuídos aos bebês nascidos em 2021. A primeira delas reúne as estatísticas dos EUA; a segunda traz os nomes dados aos pequerruchos nascidos em Paris.


Nos EUA e na França, diferentemente do que acontece no Brasil, é pouco comum a invenção de nomes. Mais raro ainda – pra não dizer inexistente – é o acréscimo de letras a esmo, em geral mal colocadas (Jhonatan, Anitta, Deyvid, Dennise).


Nomes bíblicos aparecem tanto entre os americanos como entre os franceses. O mais curioso é que, apesar das diferenças linguísticas entre os países, três nomes aparecem em ambas as listas – e escritos da mesmíssima forma. Confira abaixo.

Nomes mais atribuídos nos Estados Unidos em 2021

Meninos:

1. Liam
2. Noah
3. Oliver
4. Elijah
5. James
6. William
7. Benjamin
8. Lucas
9. Henry
10. Theodore

Meninas:

1. Olivia
2. Emma
3. Charlotte
4. Amelia
5. Ava
6. Sophia
7. Isabella
8. Mia
9. Evelyn
10. Harper

Nomes mais atribuídos na cidade de Paris em 2021

Meninos:

1. Gabriel
2. Adam
3. Louis
4. Raphaël
5. Arthur
6. Noah
7. Isaac
8. Joseph
9. Mohamed
10. Léon

Meninas:

1. Louise
2. Alma
3. Emma
4. Adèle
5. Chloé
6. Anna
7. Olivia
8. Eva
9. Jeanne
10. Rose.

Os nomes assinalados em cor aparecem entre os favoritos em ambos os países.

Anticorpos

Eduardo Affonso (*)

2021 bem podia ser o ano em que, após termos adquirido anticorpos contra a corrupção institucionalizada, programática, meticulosamente planilhada dos governos Lula e Dilma, possamos desenvolver defesas contra a corrupção mal-ajambrada, cheia de gambiarras, ao estilo baixo clero do governo Bolsonaro. Com direito a uma segunda dose contra o orgulho da mediocridade, o elogio da tosquice, a relativização das práticas nocivas da velha política, agora sob novo rótulo.

(*) Eduardo Affonso é arquiteto, colunista do jornal O Globo e blogueiro.

Feliz ano-novo ou feliz ano novo?

José Horta Manzano

O ano de 2020 não foi fácil. Pandemia nas ruas e destrambelhados no governo criaram uma combinação tóxica que nos envenenou a todos. Salvou-se quem pôde, mas muitos ficaram pelo caminho. Todos nós almejamos por um 2021 melhor. O que queremos mesmo é ver 2020 pelas costas.

Pessoalmente, o ano que finda vai deixar uma única saudade: é ter sido número redondo. O próximo só daqui a dez anos. Ano redondo facilita contas do tipo ‘faz 30 anos’ ou ‘daqui a 25 anos’ – o resultado sai numa conta de cabeça, rápida e sem erro. Além disso, 2020 tinha o jeitão simpático de duas dezenas que se repetem, um fenômeno raro. Pra revê-lo, precisa esperar até 2121. Temo que nenhum de nós consiga chegar lá. Infelizmente.

Estes dias, todos querem desejar aos amigos um novo ano feliz. Falar é fácil, escrever é mais complicado. Ano-novo ou ano novo? Com tracinho ou sem? Ambas as formas são aceitas, só que elas não dão o mesmo recado. Vamos conferir.

Ano-novo (com hífen) é expressão que consta nos dicionários brasileiros. Tem o significado de «a passagem de 31 de dezembro para o 1° de janeiro» ou «o dia 1° de janeiro». Portanto, ano-novo (com hífen) delimita um momento preciso: o nascimento do novo ano, que é o espaço de tempo englobando, grosso modo, o último dia de um ano e o primeiro do ano seguinte.

Ano novo (sem hífen) é reles sequência de substantivo + adjetivo; não aparece no dicionário. Refere-se ao ano inteiro.

Quando a gente quer exprimir os votos, fica assim. Se o desejo for expresso oralmente, o problema desaparece. Com ou sem hífen, a pronúncia é a mesma. Já se for por escrito, é bom saber que:

Feliz ano-novo! (com hífen)
exprime o desejo de que a pessoa passe um réveillon feliz. Equivale à saudação ‘Boas entradas!’.

Feliz ano novo! (sem hífen)
exprime o desejo de que a pessoa passe um ano inteiro feliz.

Desejo a todos os distintos leitores um feliz ano-novo e um feliz ano novo.

Observação
Em inglês, francês, alemão, italiano, espanhol, ninguém dá atenção a essas sutilezas. Não se usa hífen. Maiúscula ou minúscula? Fica ao gosto do freguês, mas geralmente se vê com maiúsculas. Nossa obsessão com minúcias gráficas não combina com um povo que devia mais é se preocupar em despoluir a escrita a fim de simplificar a instrução de sua massa de iletrados.

Outubro de 2021

José Horta Manzano

Pelo sacolejar da carroça, Lula da Silva estará logo livre. Pra determinar a soltura, o STF terá de agir em três tempos: cassar o julgamento do ex-presidente, anular a confirmação da segunda instância e invalidar a reconfirmação do STJ. Dito assim, parece muita anulação de processo, mas nosso tribunal maior tem mostrado desenvoltura no trato de esquisitices.

Se esse for o figurino, o(s) processo(s) volta(m) para a primeira instância e o Lula volta pra casa. Como qualquer cidadão, terá o direito de concorrer a eleições. Não o imagino candidatando-se a prefeito de Garanhuns, sua terra natal. Acredito que vá direto registrar candidatura para a Presidência. Na época da eleição, em outubro de 2021, nosso guia já estará com 76 anos. Seu bom aspecto, no entanto, parece indicar que está em boa saúde. Idade, em si, não é doença.

Supondo que o presidente atual aguente de pé até o fim do mandato, teremos uma situação curiosa. De um lado estará doutor Bolsonaro, que já declarou intenção de candidatar-se à própria sucessão. Do outro, Lula da Silva, concorrendo pela sexta vez.

Vamos agora fazer continha de chegar. Suponhamos que tanto o Lula quanto doutor Bolsonaro contem, cada um, com o apoio de um terço do eleitorado. São os ‘ultras’, os incondicionais, os devotos. Se meus números não estiverem muito longe da verdade, pode-se apostar que ambos têm lugar garantido no segundo turno. É aí que começa o dilema para o último terço do eleitorado, aquele que não reza pela cartilha de nenhum dos dois, mas cujo voto vai decidir a eleição. Que rolo, coronel!

Da última vez, ocorreu algo semelhante. Lula da Silva, retido por compromissos inadiáveis em Curitiba, nomeou procurador pra representá-lo. As pesquisas apresentaram doutor Bolsonaro como o único Quixote capaz de vencer o lulopetismo.

Do Lula, sabíamos que havia permitido o assalto aos cofres da nação. Desgostosa, a maioria do eleitorado não queria um repeteco. De doutor Bolsonaro, não se sabia grande coisa. Seus apoiadores ‘de raiz’, somados aos eleitores que não queriam o lulopetismo de volta, formaram maioria. Vai daí, venceu Bolsonaro.

Desta vez, o nó será bem mais apertado. O Lula continua o mesmo, não mudou nem um nadinha. Persiste em negar beatamente a feia realidade que todos conhecemos. Seus protestos de pureza soam falso. De doutor Bolsonaro – a incógnita da última eleição –,temos agora um balaio de informação. Se ainda estamos procurando suas qualidades, conhecemos bem seus abundantes defeitos.

O dilema, portanto, será pontudo. Todos os que não forem lulistas de carteirinha nem bolsonaristas de coração estarão numa sinuca complicada. Não queremos que nenhum deles seja presidente do país. Mas teremos de escolher ‘entre a peste e a cólera’, como dizem os franceses. Não vai ser fácil. Preparem-se.