José Horta Manzano
Dentro de 71 dias, seremos milhões a depositar nossa confiança (ou nossa ojeriza) na familiar urna eletrônica. Fazemos parte de um contingente habilitado a votar que supera a marca de 150 milhões de cidadãos.
Por mais que alguns ainda mantenham ilusões de terceira via, uma análise desapaixonada revela que a escolha dos eleitores já não contempla essa perspectiva. A eleição está afunilada, e restam apenas dois candidatos no páreo.
Pouco importa o programa de governo que apresentem – se apresentarem algum. Nosso próximo presidente será aquele, dos dois, que for alvo do nível de rejeição mais baixo. Mais uma vez, a maior parte do eleitorado não votará por convicção, mas por eliminação.
Meu voto não será de adesão. Por mim, os dois candidatos iriam para a lata do lixo. Com uma pedra em cima, que é pra nunca mais saírem de lá.
O voto nulo não faz sentido. É deixar que outros decidam em meu lugar. Vou escolher o menos pior. Prepare seu coração.
Só não concordo que o voto nulo seja uma forma de deixar que os outros escolham por nós. É uma maneira legítima de protestar, denunciar o jogo de cartas marcadas. Minha repulsa maior é contra o voto útil, esse sim um meio de se isentar da responsabilidade pelas consequências da escolha do ‘menos pior’,.
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Numa época em que conflitos se resolvem garrucha em punho, a abstenção eleitoral é remédio demasiado sutil. Considerando que o não-voto não altera o resultado final, conclui-se que não votar equivale a anuir e dobrar-se à decisão dos demais.
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A curto prazo, pode ser verdade. Esse é o jogo de cartas marcadas: fazer as pessoas sentirem a urgência de “salvar” o país de um déspota ou de um trapaceiro e terem medo de “perder seu voto” apostando num candidato menos conhecido/popular. Foi o voto útil que elegeu Bolsonaro em 2018. No longo prazo, no entanto, se mais e mais pessoas se conscientizarem que não querem mais jogar o jogo das velhas oligarquias, a coisa pode mudar de figura e haver uma renovação significativa das lideranças políticas. Mas, como sempre, a resposta está na educação – e isso, infelizmente, não vai mudar nem no próximo século. Você está com a razão, portanto.
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