Você sabia?
Desde tempos pré-históricos, o homem sentiu necessidade de designar local específico para cultuar deuses. O Oriente Médio guarda numerosos resquícios de templos de outras eras. Petra (na Jordânia atual) e Palmira (na Síria atual) são exemplos de antiquíssimas cidades que contavam com edifícios de culto.
Na Europa Ocidental, a Idade Média conheceu o apogeu do fervor espiritual. Entre os anos 1200 e 1500, dezenas de catedrais góticas foram levantadas. Eram obras monumentais cuja edificação, à força de braço, levava muitíssimos anos, um século às vezes.
Há o caso curioso de um templo cuja função flutuou ao sabor da religião dominante. Mais de dois mil anos atrás, o povoado ibérico situado onde hoje está Córdoba (Espanha) foi ocupado por tropas romanas, que aí estabeleceram a capital da província da Hispania Bætica.
Como toda capital que se preze, Córdoba merecia um templo. Ganhou um dedicado a Janus, o deus romano dos começos e dos fins, aquele que abre portas e passagens. É o mesmo deus que, mais tarde, emprestaria seu nome ao mês de janeiro, espelhando o fim de um ano e a abertura de outro.
Passaram os séculos. O esfacelamento do Império Romano abriu caminho à invasão de Vândalos e de Visigodos. Povos germânicos convertidos à fé cristã, os recém-chegados se valeram do que restava do antigo edifício para construir templo cristão.
Trezentos anos mais tarde, a região mudou novamente de dono. Muçulmanos, que haviam atravessado o Estreito de Gibraltar, estabeleceram em Córdoba um califado que duraria mais de 500 anos. Não destruíram o templo existente. Preferiram reformá-lo e ampliá-lo inteiramente para abrigar o culto maometano. Majestosa, a nova mesquita refletia o poder do califa.
Cinco séculos depois, no lento movimento que ficou conhecido como como La Reconquista, o muy católico Fernando III, rei de Castela, retomou Córdoba. Na sequência, reformou-se de novo a mesquita. Colunas foram derrubadas. Acrescentou-se uma nave, ergueu-se uma torre e o edifício voltou a ser templo cristão.
Olhando hoje do exterior, o visitante hesita em definir o conjunto como mesquita, convento ou catedral. Pra dizer a verdade, o edifício ‒ por muitos chamado Catedral-Mezquita ‒ é um verdadeiro bolo de noiva. Uma surpreendente e interessantíssima mistura que marca a passagem de diferentes culturas.
Publicado originalmente em 25 jan° 2016.