Num raro sincericídio cometido nas barbas de apoiadores entusiastas, Jair Bolsonaro confessou ontem que é milagre ter conseguido segurar-se no mandato até agora.
Apesar do apreço que tenho e da reverência que sinto para com o capitão, devo discordar. Peço vênia, Excelência!
Milagre, em nossa língua, é palavra reservada para acontecimentos benéficos, favoráveis e auspiciosos. É sempre usada em sentido positivo.
Tem sido assim desde os milagres bíblicos, em que paralíticos voltavam a caminhar, cegos recobravam a visão e multidões eram alimentadas com meia dúzia de peixes.
Milagre não é a faísca acidental que bota fogo na casa, mas a chuva que apaga o incêndio.
Como tem feito em frequentes ocasiões, Sua Excelência distorce a realidade a seu favor. O fato de ter-se mantido na Presidência até agora não é milagre. A língua oferece um balaio de termos que se adaptam melhor. À escolha:
maldição,
desgraça,
fatalidade,
desventura,
cataclismo,
desventura,
infortúnio,
sinistro,
catástrofe,
adversidade,
desdita,
calamidade,
desastre,
estrago.
A lista não é exaustiva, mas vou parar por aqui pra este post não ficar demais deprimente. Ai de nós!