José Horta Manzano
Todo o mundo está liberado pra fazer coisa errada. A prática funciona, leve e solta, até que nos apanhem com a boca na botija. Aí, o angu encaroça. Todos fazemos diariamente o que devemos e o que não devemos, o que podemos e o que não podemos. E o barco segue tranquilo até o dia em que o erro é descoberto. Aí… catapum! Vêm as consequências.
A vida é assim, todos somos assim, o fenômeno é banal. Todos fazemos besteira. Um conselho antigo diz: «Se cometer malfeito, não deixe rastro». Doutor Moro se descuidou, não seguiu o conselho e se estrepou. Talvez os anos de magistratura lhe tenham inculcado a certeza de ser invulnerável. Talvez tenha botado fé exagerada na inviolabilidade de mensagens eletrônicas. O fato é que ele bobeou e acabou deixando rastro. Fez como o gato que se esconde e deixa o rabo de fora. Tamanha ingenuidade por parte de pessoa erudita e antenada surpreende.
Faz décadas que acredito que todas as conversas telefônicas são gravadas e conservadas em algum lugar. Hoje em dia, com as facilidades de armazenagem de material digital, tenho a convicção de que todas as mensagens – de som ou de texto – são recolhidas e armazenadas nalgum bunker enfurnado num deserto do Arizona ou do Colorado. Não é imaginável que todas sejam lidas. Mas ficam lá pra uso em caso de necessidade.
O que o distinto leitor e eu dizemos ou escrevemos não é de interesse público. São palavras inconsequentes, sem nenhuma incidência sobre a rotação do planeta. Já o que diz ou escreve um figurão como doutor Moro interessa, sim, a muita gente. Principalmente quando, em conversa clandestina, ele escreve o que não deve e envia a um correspondente com quem não devia estar-se correspondendo.
Mas agora o mal está feito. O moço foi apanhado com os dedos enfiados no pote de geleia. E com a boca lambuzada. Não tem como se esquivar. O que me surpreende é a veemência com que certos blogueiros e articulistas tentam negar a realidade. É esforço jogado fora, minha gente, que o rei está nu. O que interessa é saber o que vai acontecer daqui para a frente. O fato de os dados terem sido obtidos de modo ilegal não anula a ilegalidade da troca de mensagens. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Que triste ler aqui um comentário negativo sobre o Dr. Moro por causa daquelas SUPOSTAS mensagens… Claro que um crime é mais importante do que o modo como ele é divulgado! Até o Ministério Público já arquivou as denúncias por ser impossível verificar a veracidade das publicações do site ajudado pelo hacker.
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He, he… Acredito que esse pessoal do MP deve é estar desapontado de não ter pensado em requerer os serviços de piratas experientes e eficientes. Haviam de encontrar tesouros inestimáveis no telefone dos suspeitos «malfeitos».
Lula da Silva não escreve, disso sabemos todos. Mas os outros, sim. Imagine então o que se deve encontrar nos arquivos telefônicos de parlamentares e grandes empresários.
Doutor Moro foi imprudente, não há que discutir. Mas ele não está só. Muita gente graúda se descuida. Hillary Clinton perdeu as eleições, entre outras razões, por ter usado mal o celular.
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