José Horta Manzano
Nestes tempos bicudos de valores pervertidos e de salve-se quem puder, vez por outra surge um fato pra ajudar a levantar o moral.
Destoando da enxurrada de calamidades, uma notícia honrada apareceu mês passado. Em outros tempos, seria encarada como banal, evidente. Já em épocas degeneradas como a atual, merece destaque.
Mônica Bergamo, articulista da Folha de São Paulo, informou – em letrinhas miúdas – que familiares de dona Zilda Arns tinham polidamente declinado de uma homenagem que a Petrobrás se preparava a prestar à ilustre médica falecida tragicamente cinco anos atrás no terremoto de Porto Príncipe. A petroleira se propunha a dar, a um dos navios da Transpetro, o nome da médica sanitarista.
Numa educada resposta, a família renunciou à homenagem. Como justificativa, argumentou que só permitia que o nome de dona Zilda fosse usado em eventos ou objetos cujo objetivo não fosse comercial. Não era, evidentemente, o caso do barco da Petrobrás, portanto…
Andamos todos tão acostumados a ver gente se apoderando do que não é seu sem pedir licença que ficamos surpreendidos com tal demonstração de recato fora de moda.
O que costumava ser regra passou a ser exceção cada dia mais rara. Vamos torcer para que atitudes como essa se multipliquem.
Só para terminar: diante da recusa, a Petrobrás tascou na embarcação o nome da falecida escritora Zélia Gattai, mulher de Jorge Amado.