Como está sendo visto o Brasil de longe

José Horta Manzano

«É má notícia para a democracia [brasileira], corroída por exagerada corrupção, que o único que podia combatê-la, o ex-presidente Lula, está na cadeia.»

A frase acima que, de tão absurda, a gente tem de ler duas vezes, saiu da pluma de um jornalista e escritor mexicano. É o arquétipo da visão que se tem do Brasil no exterior. É impressionante a agitação que tem tomado conta da mídia internacional nesta época de eleições brasileiras. Conforme se vai aproximando o dia do segundo turno, então, a agitação vai se transformando em frenesi.

O diário espanhol El Pais traz, na edição online de hoje, longo artigo intitulado «Intelectuales de América y Europa alertan contra Bolsonaro». Vinte e três personalidades dão depoimento. Entre outras nacionalidades, há gente do Brasil, da França, da Argentina, da Espanha, da Colômbia, dos EUA, do Chile. Algumas declarações são comoventes de ingenuidade. Outras são fruto evidente de desinformação. Há também aquelas de deixar de cabelo em pé de tanto cinismo: atribuem, a doutor Bolsonaro, terríveis intenções que constam do programa oficial do Partido dos Trabalhadores.

Nosso decepcionante Chico Buarque também mete lá o bedelho, assim como o argentino Esquivel, o americano Chomsky e o francês Bernard Henri Lévy ‒ figurinhas carimbadas. Exclamações como retrocesso!, soberba!, extrema direita!, golpe!, terrorismo fascista! aparecem a cada duas linhas. São relembrados até os cem mil votos que recebeu o rinoceronte Cacareco na eleição para a vereança paulistana em 1959. Pra você ver o grau de apelação.

O grito
by Edward Munch, pintor norueguês

Todas as análises são equivocadas. Entre os entrevistados, há os que atribuem a derrota do PT à «onda conservadora» que varre o planeta. Há os que veem na atual política brasileira um complô das elites que, ao tirar de cena Lula da Silva, estão alinhavando o golpe iniciado com a deposição de doutora Rousseff. Há quem chegue mais perto da realidade, ao evocar a insegurança que impera no território nacional. Ninguém, no entanto, se atreve a encarar a realidade e a atribuir a vitória de doutor Bolsonaro à verdadeira razão, que é a resposta do povo à roubalheira que comeu solta no período lulopetista.

Não tivesse havido roubalheira, o PT estaria instalado no topo do poder por vinte, trinta, cinquenta anos. Teriam continuado a moldar o país segundo a cartilha do partido. Teriam transformado o Brasil numa Venezuela light, com regime autoritário mas sem débâcle econômica. Ou, na pior das hipóteses, com “débâcle light”. Ao agir como fominhas, bobearam e perderam tudo. Observadores estrangeiros não conseguem entender, mas nós, que somos os maiores interessados, entendemos muito bem. Ânimo, minha gente, que falta pouco!