X, antigo Twitter

José Horta Manzano

Só conheço o X (antigo Twitter) de ouvir falar. Não sou de “seguir” gurus nem personalidades; tampouco sinto necessidade de apregoar, a cada instante, os pensamentos que me passam pela cabeça.

Tenho acompanhado a turbulência que sacode a plataforma desde que um multibilionário tornou-se proprietário dela. Pelas notícias que leio, a impressão que me dá é que a curiosa intenção do milionário é destruir a empresa. Ele age aos trancos, um pouco hoje, um pouco amanhã, sempre no modo “tiro no pé”. Difícil de entender.

Alguns meses atrás, o grande golpe foi trocar o nome da empresa. O rapaz jogou no lixo a marca Twitter, implantada e conhecida no mundo todo. Em seu lugar, botou “X”, nome sem graça, banal, que se pronuncia de maneira diferente em cada língua. A meu ver, uma decisão desastrosa.

E parece que não sou o único a reprovar a troca de nome. No mundo inteiro, em todas as línguas, a mídia, quando se refere a essa plataforma, continua a dizer “X, antigo Twitter”.

Não sei se fazem isso preocupados com a boa compreensão ou se estão mesmo é dando um chute na canela do bilionário. Seja qual for a razão, a conclusão é a mesma: os usuários não aprovaram a mudança.

Vamos ver qual é a próxima extravagância do ricaço.

Os exemplos abaixo foram todos publicados meses após a mudança de nome.

 

 

O Globo, em português

 

 

Der Westen, em alemão

 

 

The New York Times, em inglês

 

 

Ubisoft, em italiano

 

 

Le Journal de Montréal, em francês

 

Face, Google, Twitter e o golpe

Pedro Doria (*)

Prezados Zuck, Sundar e Jack,

Aqui no Brasil, não costumamos escrever a CEOs como vocês, de Facebook, Google e Twitter, chamando pelo apelido ou prenome. Mas vou me permitir escrever assim, na informalidade americana tão típica no Vale do Silício. É para ser mais direto.

É preciso que vocês prestem atenção na política brasileira. Agora.

Em 6 de janeiro último, uma turba invadiu o Capitólio, em Washington. A polícia legislativa não acreditava que isto seria possível. Dá para entender. Numa democracia longeva que não interrompeu o ciclo de eleições regulares nem com uma guerra civil, como seria possível imaginar que cidadãos americanos invadissem o Parlamento para interromper a homologação de um pleito? Mas aconteceu. Pessoas foram radicalizadas a esse ponto em ambientes digitais e aí insufladas por um presidente que desprezava a ideia de uma sociedade livre.

No Brasil, a história nos obriga a imaginar essa possibilidade.

Minha geração de jornalistas aprendeu o ofício com colegas quinze ou vinte anos mais velhos que enfrentaram, na condição de repórteres e editores, a ditadura mais recente. Alguns desses amigos, que ainda trabalham nas redações, gente por quem temos afeto, foram exilados, presos e torturados pelo exercício das liberdades políticas essenciais: a de pensar, a de se expressar, a de se manifestar, a de publicar e a de se reunir para debater.

Donald Trump segue persona non grata em várias das redes. A decisão de excluí-lo seguiu um princípio que qualquer democrata endossa: o Paradoxo da Tolerância, descrito pelo filósofo austríaco Karl Popper. No limite, uma sociedade aberta não pode abrir espaço para que intolerantes usem destas liberdades para ameaçar o regime democrático.

A República brasileira nasceu com um golpe militar, em 1889. De lá para cá houve golpes de Estado em 1891, 1930, 1937, 1945, 1955 e 1964. Só um deles, o de 1955, fracassou. Em rigorosamente todos estes momentos, a ruptura de regime começou no momento em que foi quebrada, nas Forças Armadas, a exigência de disciplina que proíbe militares de se envolverem na política.

Há duas semanas, pela primeira vez desde a restauração da democracia no Brasil em 1985, um general da ativa subiu ao palanque em apoio ao presidente. Seus superiores no Exército, intimidados pelo mesmo presidente, nada fizeram. O sinal histórico de ameaça à democracia foi dado.

Em um ano teremos eleições. Como Trump, Jair Bolsonaro vem espalhando entre seus seguidores que há risco de fraude. Não é a única das mentiras que seu movimento trabalha diariamente para espalhar. São mentiras que têm por objetivo disseminar naquela parcela radicalizada da população elementos que a convençam de que não devem confiar nas instituições da democracia.

Bolsonaro está seguindo o script de Trump. Não há, na história do Brasil, nada que nos garanta que o desfecho será como o americano. Aqui, vivemos o receio concreto de que os generais não tenham mais pleno controle de suas tropas. E sabemos que os governadores não controlam mais plenamente suas polícias.

Me permitam ser explícito: numa situação limite, um 6 de janeiro, no Brasil, poderia contar com o apoio de parte da polícia enquanto o Exército nada faz.

Vocês conhecem as plataformas que comandam. Sabem do peso que elas têm em todos esses acontecimentos. Agir depois do ato fatal, como fizeram com Trump, aqui pode ser tarde demais.

Nós, brasileiros, não temos qualquer tipo de influência sobre as decisões que vocês tomam. Mas somos nós e nossos filhos que sofreremos pelas decisões que tomarem. É hora de ligar o alerta vermelho em Menlo Park, Mountain View e San Francisco.

O golpe, se houver, fracassado ou não, será batizado com o nome das empresas que vocês comandam.

(*) Pedro Doria é jornalista e escritor. O artigo foi publicado no Estadão de 11 junho 2021.