O poder do vil metal

José Horta Manzano

Chacinas não fazem parte do quotidiano suíço. Estatísticas mostram que a taxa anual de homicídios voluntários no país não passa de 0,7 por cem mil habitantes. Para efeito de comparação, registre-se que a taxa brasileira é 30 vezes mais elevada, chegando a incríveis 22 assassinatos por cem mil habitantes.

A criminalidade, portanto, não figura entre as maiores preocupações da população da Suíça. Eis por que a matança de quatro pessoas, ocorrida no fim do ano passado no vilarejo de Rupperswil, Cantão de Argóvia, continua nas manchetes nacionais.

Rupperswil, Cantão Argóvia, Suíça

Rupperswil, Cantão de Argóvia, Suíça

Alguns dias antes do Natal, numa casa em chamas, a polícia encontrou quatro mortos. Logo se constatou que o incêndio tinha sido ateado para disfarçar crime maior: todas as vítimas haviam sido mortas a facadas. Eram quatro mulheres: a mãe, duas filhas adolescentes mais uma amiga das jovens.

Sem pistas, a polícia local não tem poupado esforços para elucidar o misterioso crime. Já colheu depoimento de 110 pessoas e já recebeu cerca de 250 testemunhos de outros indivíduos. Dezenas de automobilistas entregaram às autoridades imagens da minicâmera (dashcam) do automóvel. Quarenta policiais trabalham 24h por dia nas investigações. Até peritos suíços e alemães foram chamados para apoiar.

Wanted 1Visto que, decorridos dois meses, o inquérito não saiu da estaca zero, a polícia resolveu sacar o trunfo maior. Promete recompensa de cem mil francos suíços (quatrocentos mil reais!) a quem fornecer indícios que levem à elucidação do enigma. É um patrimônio, minha gente! São boas as chances de desmascarar finalmente o(s) culpado(s) e de entender o que aconteceu.

É o caso de cogitar se não valeria a pena oferecer, com maior frequência, recompensa em dinheiro para elucidar crimes no Brasil. Não precisa chegar a montante astronômico como o de Rupperswil, sejamos modestos! Com bem menos, já é possível destravar línguas. O poder do vil metal é irresistível. Com certeza, ajudaria o Brasil a se afastar da vergonhosa taxa atual de homicídios, digna de país mergulhado em guerra civil.

Classificado

Myrthes Suplicy Vieira (*)

Anúncio 3Procura-se um interlocutor com urgência.

A pessoa que estou procurando deve ser capaz de responder de pronto e de forma articulada a qualquer questionamento que lhe seja feito, em relação aos mais diversos temas de interesse, desde os mais propriamente filosóficos e existenciais até os científicos especializados, passando por aqueles mais adstritos à vida cotidiana, englobando seus aspectos sociais, econômicos e políticos, nacionais e internacionais.

Anúncio 4A capacidade de demonstrar empatia, de argumentar olhos nos olhos e de adotar uma postura serena diante de temas delicados ou explosivamente polêmicos será considerada um ‘plus’. Dar-se-á preferência ainda aos candidatos que se mostrem confortáveis em agregar a suas respostas um tom de provocação, ironia fina e perspicácia.

Os interessados deverão deixar seu curriculum na portaria. Não serão aceitas candidaturas por meios eletrônicos. A seleção será feita com base no exame das credenciais e em eventuais cartas de recomendação. Não haverá contato pessoal nem entrevista em nenhuma hipótese antes do final do processo e a resposta será enviada por correio.

Paga-se bem.

(*) Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.