A vida dura dos presidentes

José Horta Manzano

Aparições públicas são momentos de alto risco para governantes. Não falo de risco de vida, falo de risco para a imagem.

Até uns 20 anos atrás, atentados eram moeda corrente em qualquer ponto do globo. Desde Júlio César, enfrentaram essa situação incômoda ― e às vezes mortal ― figuras excelsas como o Mahatma Gandhi, João Paulo II, John F. Kennedy, D. Carlos I (rei de Portugal), Benazir Bhutto (do Paquistão), Ronald Reagan, Indira Gandhi. E muitos outros.

Os 38% de dona Dilma vistos por Jarbas Domingos, desenhista pernambucano

Os 38% de dona Dilma
vistos por Jarbas Domingos, desenhista pernambucano

Hoje em dia acontece menos, talvez porque o aparato de proteção da pessoa física se tenha aperfeiçoado. Mas os descontentes, se não conseguem mais atingir figurões fisicamente, dão a volta por cima. Por vias menos violentas, mas tão contundentes quanto as tradicionais, se valem da internet e das chamadas redes sociais.

Assim mesmo, aparição pública sempre comporta uma dose de risco. Se ficou difícil riscar o personagem da face da Terra, logra-se riscar sua imagem e deixar arranhões que causam tanto dano quanto uma punhalada.

Todos se lembram daquele dia em que, ao preparar-se para discursar no Maracanã, na abertura dos Jogos Panamericanos de 2007, nosso messias ouviu, atônito, uma retumbante vaia. Poucos se lembrarão de seus índices de popularidade na época. Mas ninguém esqueceu os apupos.

Nossa guia atual também já passou pela experiência. Foi bem mais recentemente, na inauguração da copinha de poucos meses atrás, de novo no mesmo Maracanã. Como deve ter sofrido nossa orgulhosa presidente! Para ela também vale a mesma reflexão. Que tenha 30%, 50% ou 80% de popularidade importa pouco. O que ninguém jamais esquecerá são as vaias. Tonitruantes.

François Hollande vaiado 11 nov° 2013

François Hollande vaiado
Paris, 11 nov° 2013

Monsieur Hollande, presidente da França, participou de dois atos públicos importantes nesta segunda-feira. O onze de novembro é feriado nacional, dia em que se comemora o armistício de 1918, aquele que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. O brilho da solene aparição do mandatário nos Champs-Elysées foi embaçado pelas vaias de uma parte da multidão.

Mais tarde, Hollande se dirigiu a uma comemoração menos pomposa, numa cidadezinha do interior. E não é que a coisa se repetiu? Foi de novo vaiado. A cerimônia foi encurtada, e o presidente escafedeu-se.

Bem, é de notar que a popularidade de François Hollande está no patamar mais baixo jamais registrado para um presidente da França desde que esse índice começou a ser medido. Apenas 21% dos franceses avaliam positivamente seu governo. Nem Sarkozy, o antecessor, havia chegado a um número tão pífio.

Pensando bem, dona Dilma pode até sentir-se feliz com seus 38%. Mas vamos ver. Dificilmente ela poderá esquivar-se de discursar na abertura da copona, a do ano que vem. Com bombas de efeito moral, podem-se reprimir alguns arruaceiros, mas… como calar um estádio?

Pílulas de sabedoria

José Horta Manzano

Um dia, um sábio pergunta a seus discípulos:
“Por que as pessoas gritam quando estão bravas?”

“Gritamos porque perdemos a calma”, diz um deles.

“Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?”, insiste o mestre.

“Para ter certeza de que a pessoa vai nos escutar”, atalha outro discípulo.

Após alguns segundos de silenciosa reflexão, o mestre volta a dirigir-se aos discípulos: “Então, em certas ocasiões, não é possível falar em voz baixa?”

Gritar

Interligne 3eAlgumas tentativas de explicação surgem, mas nenhuma convence o pensador. Ele dá, então, sua visão sobre a questão:

“Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? É que, quando dois brigam, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar. Se não o fizerem, periga até não se escutarem mutuamente. Quanto mais bravas estiverem, mais forte terão de gritar para ouvir um ao outro. Quanto maior for a distância, mais alto terá de ser o grito.

Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito próximos. A distância entre elas é pequena. Às vezes seus corações estão tão próximos que os dois nem precisam falar, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso ainda, não necessitam sequer sussurrar. Apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É o que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.”

Por fim, o pensador conclui:
“Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não pronunciem palavras que os distanciem, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.”

Interligne 3c

Alguns dão o militante pacifista e dirigente indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) como criador dessa fábula. Outros hesitam em atribuir-lhe a autoria. No fundo, tanto faz. São palavras sábias, e isso é o que conta.

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Cortesia de Cláudio Mauro Machado, velho e fiel amigo.