José Horta Manzano
Não é de hoje que a inventividade brasileira é sufocada no nascedouro por falta de incentivo. Desde que o golpe encabeçado pelo marechal Deodoro destronou o imperador e desterrou toda a família, a criatividade dos brasileiros passou a ter mais dificuldade para eclodir.
Para desenvolver seu talento, nossos conterrâneos mais dotados – cientistas, atletas, artistas – terão muito mais chance se se transferirem ao exterior. Em solo pátrio, a probabilidade de desabrochar é escassa.
A não ser, evidentemente, que o interessado se faça acolher sob asas oficiais, como fez um certo senhor cujas empresas terminavam com um X. Em casos assim, o sucesso pode ser fulgurante. A derrocada também. Mas essa é já é uma outra história, que fica para uma outra vez.
Faz alguns dias, postei um artigo sobre as taxas que se costumam cobrar dos cidadãos na Europa pelo direito de receber emissões radiofônicas e televisivas. Eu sabia que as primeiras emissões regulares e organizadas de rádio tinham ocorrido nos anos 1920. Para complementar meu parco conhecimento do assunto, procurei me informar.
Num desses sites aos quais a gente recorre quando nos escapa um nome ou um detalhe, encontrei não só a data exata da primeira emissão de rádio, mas também o lugar onde foi gerada: 28 de março de 1914, no Palácio de Laeken, Bélgica. Reproduzi a informação.
Uma atenta e fiel leitora acaba de me puxar a orelha. Zeza Loureiro, coordenadora do prestigioso Portal dos Jornalistas, conhece o assunto bem melhor que eu. Contou-me que, bem antes da experiência belga, já havia ocorrido a primeira transmissão sem fio da voz humana. Adivinhem onde? Exatamente: foi no Brasil.
Faz tempo que o jornalista Eduardo Ribeiro, figura maior da Editora Jornalistas & Cia, e o historiador e jornalista Hamilton Almeida batalham para divulgar fato interessantíssimo, do qual, tenho certeza, muitos nunca ouviram falar. Incansável, Hamilton já escreveu quatro livros sobre o assunto.
Pois saibam meus distintos leitores que, quinze anos antes da experiência belga, o padre porto-alegrense Roberto Landell de Moura já havia levado a cabo, em São Paulo, a primeira transmissão de voz. Foi exatamente dia 16 de julho de 1899. E olhe que a experiência não teve lugar no escurinho de um laboratório, não, senhor: foi em público, na presença de empresários, professores, cientistas, jornalistas. Foi um padre arteiro, sim, senhor!
Pronto, está feito o reparo. A cada um o que é de cada um.
Em matéria de prestígio a talentos nacionais, a gente fica com a desagradável impressão de que, desde que o golpe militar de 1889 impôs o regime republicano, nunca mais apareceu mandatário à altura do imperador escorraçado.
Dou-lhes um só exemplo: não fosse o amparo visionário que Dom Pedro II ofereceu ao jovem Antônio Carlos Gomes, o músico campineiro teria passado a vida tocando no coreto provincial. Não seria reconhecido hoje como o maior compositor lírico das Américas. De 125 anos pra cá, muita coisa mudou no Brasil. Umas melhoraram, enquanto outras…
Vamos deixar pra lá. Dias mais razoáveis hão de vir. Espero.
