José Horta Manzano
O povo brasileiro pode sentir-se protegido. Big Brother cares for you ― lá no andar de cima, os figurões cuidam de você.
Já faz quase uma semana que o clima político-policial anda agitado em consequência da revelação que o Estadão fez sobre o crime dito organizado. Falo das investigações e das provas trazidas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo sobre a gangue autodenominada PCC.
Matilhas criminosas costumam prosperar lá onde o Estado estiver ausente. As máfias do sul da Itália, da Rússia, da região balcânica têm-se valido desses desvãos para progredir. Nosso país tem uma classe política que muito fala e pouco faz. Os discursos, os pronunciamentos, os anúncios, os comícios apontam todos para um futuro radioso de felicidade geral. Na prática, a teoria tem sido outra.
Preocupados mais com politicagem do que com política, nossos governantes vivem dentro de uma bolha confortável que os isola do dia a dia da nação. Absorvidos por permanentes manobras visando à manutenção de seu próprio poder, desconectam-se da tarefa para a qual foram eleitos. A administração é abandonada a assessores e auxiliares que, incompetentes, vão empurrando com a barriga.
O resultado está aí. O governador do Estado mais importante do País fica sabendo pelos jornais que sua eliminação vem sendo planejada por uma súcia de presidiários.
A presidência da República acaba de anunciar que, dentro em breve, o Brasil estará em condições de tornar seguras as mensagens emitidas por brasileiros. Paradoxalmente, essas mesmas autoridades, tão lestas a reorganizar o fluxo da comunicação entre gente comum, são incapazes de coibir o uso de telefones celulares nas prisões. É paradoxal. Haja descaso!
Para coroar, vem agora o ministro da Justiça em pessoa declarar que considera inaceitável «a atuação e a dimensão» (sic) da corja de prisioneiros. É de perguntar que atuação ele esperava da malta. E qual seria a dimensão «aceitável».
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Há horas em que é melhor fechar a boca para não dizer besteira.


