José Horta Manzano
Outro dia, estava escutando um programa numa estação de rádio suíça. Era um diálogo em que os dois conversavam de algo banal, nem me lembro exatamente qual era o assunto.
Lá pelas tantas, um faz ao outro uma pergunta meio cabeluda, daquelas que demandam um tempo pra reflexão. Enquanto pensava na resposta, o indagado enrolou um pouco:
Ô, mais c’est compliqué ça!
Rapaz! Mas isso é complicado!
E o que tinha perguntado, na lata:
Eh, oui. C’est aussi compliqué que de chercher un peu d’humanité chez Bolsonaro.
É verdade. É tão complicado quanto procurar um pouco de humanidade no Bolsonaro.
Os dois continuaram a conversa, mas eu parei, surpreendido pela menção do nome do capitão, assim, de supetão, no meio de uma conversa amena, que não tinha nada a ver com ele.
Me lembrei de um antigo político que costumava dizer “Falem bem, falem mal, mas falem de mim”.
Parece que o autor da frase não é bem o político, mas o escritor e poeta irlandês Oscar Wilde (1854-1900). No original, era: “There is only one thing in life worse than being talked about, and that is not being talked about.” – “Só há uma coisa na vida pior do que ser falado; é não ser falado”.
Não tenho dúvida de que deve ser agradável ser popular; faz bem ao ego. Mas tornar-se sinônimo de desumanidade é pesado. Imagino que não faça bem ao ego de ninguém. Nem do próprio Bolsonaro.
A che punto siamo arrivati! – como dizem os italianos – A que ponto chegamos!