Dicas de Português

Ortografia 4José Horta Manzano

1. Vc. deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.

2. O escritor deve prescindir de recorrer ao uso de estilo de escrita em demasia rebuscado. Tal prática costuma advir do excessivo esmero com que exibicionistas ― nem sempre ínclitos ―, cuja autoincensação decorre justamente do parco conhecimento linguístico de que dispõem, chegam a raiar o paroxismo narcisístico, sem contar, para tanto, com supedâneo sólido no que tange à formação escolástica no campo da língua pátria.

3. Anule aliterações antipáticas altamente abusivas.

4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.

5. Fuja de lugares-comuns como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando parecer relevante) é geralmente desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem vernácula são o top.

8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou?… Então, valeu!

9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.

10. Nunca generalize: generalizar é erro fatal em todas as circunstâncias.

11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai-se tornar palavra repetitiva. A repetição da palavra pode até fazer que a palavra repetida desqualifique o texto onde tal palavra for com insistência repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: “Quem cita terceiros não tem idéias próprias”.

13. Frases incompletas podem causar

14. Não seja redundante, isto é, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes, ou seja, basta mencionar cada argumento uma só vez. Por outras palavras: evite repetir a mesma idéia várias vezes.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P., nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que usar a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: “Mesóclises: evitá-las-ei!”

23. De regra importante esquecer não nunca: crucial a das palavras é ordem!

24. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

25. Não abuse das exclamações!!! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!! Acaba parecendo um tuíte!!!

26. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da idéia por elas abarcada e, por compreenderem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna seu conteúdo accessível, forçam, destarte, o infeliz leitor a dissecá-las nos seus diversos componentes, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

27. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língoa portu-guêza.

28. Seja incisivo e coerente. Ou não.

29. Não vá estar escrevendo (nem vá estar falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e vai estar causando ambiguidade. Com certeza, você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda vão estar acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza de que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em abandonar esta maneira irritante de estar falando.

30. Venha cá, meu rei! Outra barbaridade que deves evitar, tchê, é usar expressões que denunciem a região de onde vens, ô meu! Uai…esquece esse trem! Vixi… entendeu, bichinho?

31. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém vai aguentar, já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.

Falsa crase

Dad Squarisi (*)

Aqui são balas perdidas. Nos EUA, rajadas de metralhadora. Na Finlândia, facadas. Na Espanha, quatro rodas. No Iraque, homens-bomba. O terror à solta virou notícia nos jornais, no rádio, na tevê, na internet. Ao contar as histórias, dois fatos sobressaem. Um: a certeza da insegurança geral. Nem bebê na barriga da mãe está protegido. O outro: a dúvida sobre o emprego da crase.

Morto à bala? Morto a bala? Com crase ou sem crase? Alguns escreveram à bala. Outros, a bala. Qual a forma correta? A resposta será dada à prestação. Ou seria a prestação? Em bom português: a resposta será dada por partes.

A duplinha a + a
A crase indica o casamento de dois aa: preposição a + artigo a: Dirigiu-se à piscina.

O primeiro a é exigido pelo verbo dirigir-se (a gente se dirige a algum lugar). O segundo é o artigo pedido pelo substantivo cidade (a cidade). Pronto: a + a = à.

Tira-teima
Na dúvida, basta substituir o substantivo feminino por um masculino. Não precisa ser sinônimo nem aparentado. A única exigência é que seja do mesmo número (singular ou plural). Se na troca aparecer ao, sinal de crase. Se não, nada feito:

• Foi à cidade. Foi ao clube.

• Refere-se a pessoas estranhas. Refere-se a trabalhos estranhos.

• Compareceu a duas reuniões. Compareceu a dois encontros.

• Compareceu às duas reuniões. Compareceu aos dois encontros.

Falsa crase
Voltemos à dúvida inicial. Morto à bala? Morto a bala? Apresentado à prestação? Apresentado a prestação?

Nem sempre — e aí reside o xis da dúvida — o acento resulta de crase (a + a). Às vezes, por questão de clareza, apela-se para a falsa crase. Usa-se à mesmo sem a contração dos dois aa. Vender à vista, por exemplo. Aí, não há crase. Quer ver? Vamos ao masculino: vender a prazo.

Por que o à? Para evitar mal-entendidos. Sem o acento, poder-se-ia entender que se quer vender a vista (o olho). O mesmo ocorre com bater à máquina. Sem a crase, parece que se deu pancada na máquina. Não é bem isso, convenhamos.

Casos
Em que casos o duplo sentido ocorre? Geralmente nas locuções que indicam meio e instrumento:

Matou-o à bala.
Feriram-se à faca.
Está à venda.
Escrever à tinta.
Feito à mão.
Enxotar à pedrada.
Fechar à chave.
Matar o inimigo à fome.
Entrar à força.

O acento é obrigatório? Ou só se deve recorrer a ele em caso de ambiguidade? Sem risco de duas interpretações, fica a gosto do freguês. Mas há forte preferência pela falsa crase. Use-a. Você acertará sempre.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.