Os escândalos, a caravana e a banda

José Horta Manzano

Briga 4As consequências do mensalão e do petrolão não são apenas financeiras. Atingem o momento econômico e perturbam o planejamento do Brasil de amanhã.

Faz quase dez anos que o País, estarrecido, assiste ao interminável desfile de acusações, contra-acusações, afirmações, negações, imputações, absoluções. Quando a gente acha que chegou ao clímax, aparece novidade mais espetaculosa.

Políticos, sociólogos, filósofos, ministros, artistas, jornalistas, empresários – enfim, os integrantes da nata que detém o poder – se engalfinham de embolada. Faz dez anos que o Brasil está paralisado.

Por falta de previsão e erros de aplicação, planos apresentados como salvação da lavoura deram em nada. Bifurcação do Rio São Francisco, trem-bala, exploração do pré-sal, programa espacial, extinção do desmatamento, elevação do nível de ensino, consolidação de infraestrutura rodoviária e ferroviária – tudo isso ficou no papel.

by Armand

by Armand “Apfel” Feldmann, artista francês

A corrupção, sozinha, não justifica todo esse empacamento. Corrupção, posto que nunca antes tenha atingido a magnitude atual, sempre existiu. Assim mesmo, o Brasil progrediu.

Discussão 3A incompetência tampouco é explicação para a estagnação. Nossos dirigentes nem sempre foram competentes. Assim mesmo, o Brasil progrediu.

Crises externas não servem de pretexto para o marasmo atual. Crises, tensões, conflitos, guerras sempre houve. Nem por isso, nosso País retrogradou.

Sabe o distinto leitor qual é o ingrediente que, mal percebido, junta-se às mazelas nacionais endêmicas e as reforça? Pois é justamente a exacerbação desses males congênitos, trazida à tona pelo mensalão e pelo petrolão.

Ponhamos em outros termos. Apesar da corrupção crônica e da incompetência difusa, o Brasil de 2015 é, em muitos aspectos, melhor que o de um século atrás. Bem ou mal, o País vinha desempenhando razoavelmente.

Discussão 1No entanto, estes últimos anos, petrolão e mensalão baralharam as cartas. Desmilinguiu-se o pouco que havia de competência para pensar o Brasil do futuro. O tempo e o esforço dos mais capazes tem sido consumido na fogueira dos escândalos.

Juristas, psicólogos, historiadores, sociólogos, antropólogos e outros eruditos não fazem outra coisa senão tecer considerações sobre os excessos que vêm sendo revelados a cada dia. É afligente ver desperdiçada tanta massa cinzenta, que seria tão mais útil se estivesse esboçando o Brasil de amanhã.

by Sinval Fonseca, artista brasileiro

by Sinval Fonseca, artista brasileiro

O decênio de 1980 ficou na história do Brasil como «a década perdida». Que nome darão os historiadores do futuro ao período túrbido que começou em 2005? Que nome se deve dar a um tempo que a gente terá passado se estapeando, sem preocupação com o amanhã, enquanto outros povos pavimentavam, previdentes, o próprio futuro? Quantos degraus teremos descido no processo civilizatório? Quem viver verá.

Enquanto a caravana passa e nos ultrapassa, nós, bobões, continuamos ladrando. Vendo a banda passar.