Silêncio é poesia

José Horta Manzano

Logo que começaram a pipocar as mensagens de simpatia de líderes do mundo inteiro abalados com o incêndio de Notre-Dame de Paris, senti uma certa inquietação: que faria doutor Bolsonaro? Será que ia se calar fingindo que era poste? Será que ia mandar mensagem? E, se mandasse, que barbaridade perigava escrever no bilhete?

Aliviado, descubro que o pior não aconteceu. A mensagem do presidente foi sóbria, digna, exatamente como se espera de personagem equilibrado. Não estivesse assinada de próprio punho, eu nem acreditaria que tivesse sido escrita por ele mesmo.

Já Mr. Trump, ai, ai, ai. Que bordoada! O homem se permitiu dar conselho aos bombeiros de Paris, imagine só! Enquanto as chamas consumiam o edifício, sugeriu que fossem despachados aviões-cisterna, daqueles que se usam para combater incêndio florestal. E que despejassem toneladas d’água sobre a catedral.

Condescendentes, os bombeiros de Paris responderam delicadamente que não era uma boa ideia, pois o peso da água perigava destruir o que restava do monumento além de matar pedestres. Muito acertadamente, as normas proíbem o uso de aviões-cisterna em meio urbano. Desta vez, doutor Bolsonaro livrou-se do ridículo.

Em boca fechada não entra mosca, minha gente. Donald Trump calado é um trovador. Se subsiste uma duvidazinha quanto à autoria da mensagem de doutor Bolsonaro, não há que hesitar pra designar o autor do bilhete de Mr. Trump: é ele mesmo.