Com curiosidade, tenho notado um fenômeno interessante na importação de palavras. Antigamente, palavras estrangeiras que aportavam na língua eram o mais das vezes traduzidas ou adaptadas. Se a tradução ao pé da letra fosse impossível, criava-se expressão equivalente. De meio século pra cá, essa prática feneceu. Termos forasteiros são enfiados em nosso léxico tal e qual, com casca e tudo.
Um exemplo de como se fazia antigamente é aeromoça ‒ quer termo mais poético? Foi criação genial, que deixa no chinelo hospedeira e comissária de bordo. A expressão soa bem, é fácil de pronunciar e dá o recado direitinho.
Bem depois das primeiras aeromoças, quando grandes centros de compras apareceram no Brasil, a preguiça já estava instalada. O primeiro shopping center foi chamado de… shopping center. Em outras terras menos resignadas, a expressão inglesa foi adaptada. Poderíamos, nós também, ter firmado centro comercial, expressão simples, fácil de pronunciar e de sentido evidente. Preferimos guardar o original. Deve parecer mais chique.
Em nossa língua, os adjetivos costumam vir depois do substantivo. Dizemos homem rico e não rico homem, assim como criança inteligente e não inteligente criança. Poucas línguas no mundo seguem esse padrão. Entre as línguas europeias, só conheço as línguas latinas e o polonês.
Assim, nossa tendência é tomar a primeira palavra de uma expressão como a mais importante. Quando expressões inglesas são introduzidas tal e qual em nosso falar, dão origem a reduções curiosas.
Para encurtar shopping center, por exemplo, dizemos shopping. “Vou passear no shopping” (ou no xópi, conforme o gosto). Só que, no original, a palavra importante é center e não shopping. Dizer “Vou passear no shopping” é como se, para abreviar centro de compras, disséssemos “Vou passear no compras”. Peculiar, não? O fenômeno atinge outras expressões importadas com casca e caroço.
Há palavras que chegaram recentemente à língua. Seguindo a tendência atual, não foram traduzidas. O original soa tão chique, não é mesmo? Dependesse de mim, compliance viraria conformidade, que é sua tradução perfeita. Bullying, esse fenômeno que sempre existiu apesar de antes não ter nome específico, dispõe de duas expressões capazes de traduzi-lo: pode-se tanto usar assédio escolar, quanto acosso escolar.
Mas é verdade que expressão vernácula é meio chué. Que vivam os estrangeirismos puros e legítimos!

As expressões inglesas não são somente mais chiques (pelo menos aos olhos da classe média baixa que come mortadela e arrota peru), mas são também mais sintéticas. “Delivery” é mais sucinto que “entrega a domicílio”, “bullying” o é mais que “assédio escolar”, “game” é mais curto que “videojogo”, “shopping” é mais conciso que “centro comercial” (até porque nem todo centro comercial é um shopping: a Rua 25 de Março, em São Paulo, é um famoso centro comercial que nunca foi um shopping center). Aliás, se em vez de dizermos “vou ao de compras”, disséssemos “vou ao centro”, poderia ser entendido que vou ao centro da cidade (ou de umbanda, sei lá rs rs).
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