O ministro André Mendonça foi terrivelmente ingênuo, até impróprio, na manhã de quinta-feira, quando foi às redes sociais para explicar seu voto do dia anterior condenando o deputado Daniel Silveira. Justificou-se como cristão e como jurista.
Juízes, diferentemente de vereadores e deputados, não devem explicações ao seu eleitorado. Decidem, e ponto final. Mendonça decepcionou os bolsonaristas que esperavam dele uma conduta à la general Pazuello. Podia ter pedido vistas, retardando o resultado do julgamento do deputado. Seria uma chicana vulgar. Podia ter acompanhado o voto de seu colega Nunes Marques, absolvendo o réu. Preferiu condená-lo a dois anos de prisão.
Afora a chicana do pedido de vistas, não havia o que fazer. Ao votar pela condenação mostrou que, uma vez no tribunal, demarcou a linha de sua independência. Por onde ela passa, só o tempo dirá, e ele ficará na Corte até dezembro de 2047: “Mesmo podendo não ser compreendido, tenho convicção de que fiz o correto.”
Quando um cidadão é nomeado para o Supremo Tribunal Federal, espera-se dele apenas isso. É verdade que alguns ministros do tribunal se comportam como criaturas da política, ora buscando holofotes, ora cabalando nomeações de servidores. São pontos fora da curva do ideal.
Ao se explicar nas redes sociais, Mendonça foi ingênuo. Contrariou o desejo de pessoas que esperavam dele o comportamento de um miliciano e nada poderá fazer, salvo alistar-se numa milícia judiciária.
(*) Elio Gaspari é jornalista. O texto é parte de artigo publicado em 24 abr 2022 n’O Globo. Aqui para assinantes.