Não gostam de mim

by Kleber Sales/Estadão

José Horta Manzano

É possível que o distinto leitor não tenha tido oportunidade de estar presente ontem no cercadinho do Alvorada quando o presidente se dirigiu a seus devotos. Por problemas de agenda, eu também não estive lá. Mas li o relato nos jornais.

Referindo-se à avalanche de críticas de que é alvo, o capitão saiu-se com esta:

“O cara não gostar de mim, tudo bem, mas ser apaixonado pelo Lula? Desvios, roubalheira em tudo quanto é lugar. O que muita gente quer é o poder, a volta da impunidade e da corrupção. Será que não conseguem enxergar isso?”

Ao ver que o auditório concordava sem objeções, abotoou:

“Querem me criticar, critiquem, até gente que se diz de direita, né? Tudo bem, se eu sair fora, você vai ficar com quem em 2022?”

Foram poucas palavras. Assim mesmo, nem precisa refletir muito pra extrair um par de conclusões.

Primeiramente, ao dizer “querem me criticar, critiquem”, o presidente deixou claro que, apesar de viver dentro de sua bolha, está a par da baciada de críticas que recebe o tempo todo. Ao tapar os olhos pra não enxergar a verdadeira razão da impopularidade, ele põe tudo na conta daqueles “caras” que “não gostam de mim”. Nós, que não costumamos tapar os olhos nem fugir da realidade, sabemos que não é bem assim. Não é uma questão de simpatia, nem de “gostar” do presidente. É que ele é um indivíduo desonesto, traidor, covarde, enrustido, não-confiável, primitivo, ignorante. Um péssimo presidente. É por isso que imensa maioria dos eleitores quer mais é vê-lo pelas costas. Não é questão de “gostar”.

Segundamente, quando diz que “até gente de direita” o critica, deixa implícito que acredita ser “de direita”. Não quer admitir (ou simplesmente não se dá conta) de que é nada mais que um reacionário desprovido de ideologia e de objetivo que não seja o de continuar a se fartar das tetas do Estado e do fruto da corrupção que grassa em seu entourage.

Terceiramente, ao soltar um tímido “se eu sair fora”, Sua Excelência confessou admitir a possibilidade de vir a ser rejeitado nas próximas eleições.  Em se tratando de um candidato, não é atitude corriqueira. É raro ver um postulante abrindo o flanco dessa maneira. É que para ele, aos poucos, vai caindo a ficha. Daí sua obsessiva insistência num hipotético voto impresso que lhe permitisse judicializar a eleição, eternizar a apuração e, com a preciosa colaboração das milícias que julga ter, melar o jogo.

Quartamente, além de malcriado, Sua Excelência é topetudo. Ao confessar que não admite que alguém possa gostar do Lula, mostra ser dono daquele tipo de insolência que só a ignorância permite. Quem é ele pra querer controlar o arbítrio do eleitor? Não cabe a ele escolher o(s) candidato(s) que vai(vão) vencê-lo nas urnas.

Falando em urnas, as pesquisas indicam, com clareza cada dia maior, que qualquer adversário vencerá o capitão no segundo turno. Qualquer um deles. Há até excelentes chances de ele nem mesmo passar do primeiro turno. Taí um bom motivo de alegrar nossa semana.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.

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