José Horta Manzano
“Nessa base, dificilmente os articuladores governistas conseguirão evitar mais derrotas, porque as juras de apoio dos adeptos do toma lá dá cá são esquecidas assim que os ventos mudam – e, quanto pior a crise, mais caro será o preço do governismo.”
O trecho é citação de um dos editoriais do Estadão desta quarta-feira. Equilibrado e bem costurado, não há que contradizer: assino embaixo. O que me incomoda é o uso do adjetivo caro como modificador do substantivo preço.
Noto aí uma impropriedade – aliás, bastante comum. É daquelas esquisitices que costumam passar em branco e que só alguém muito chato consegue notar. Bem, o chato está aqui. Hello!
Caro/barato são conceitos subjetivos. O artigo que João acha caro pode até parecer barato para Pedro.
Preço não é noção subjetiva e não envolve julgamento de valor. O preço que João lê na etiqueta é exatamente o mesmo que Pedro lê. Preço não é caro nem barato; preço é preço, o valor do artigo. O artigo pode ser considerado caro ou barato – o preço, não.
Voltando à citação do Estadão, ficaria melhor assim:
“… quanto pior a crise, mais elevado será o preço do governismo.”
“… quanto pior a crise, mais caro será o governismo.”
Viram? Se aparece a palavra preço, some o adjetivo caro; se aparece o adjetivo caro, some a palavra preço. Pôr os dois juntos é briga na certa.
Se você disser ao feirante: “Ô, seu Manuel, o preço do tomate está caro hoje, hein!”, não tem importância nenhuma. Seu Manuel não vai fazer cara feia. Em linguagem descompromissada, isso (e muito mais) é permitido. Já num editorial de jornal sério, não fica bem.