Líderes de lá, de cá

José Horta Manzano

Quando atingiu a França, a avalanche do coronavírus pegou o presidente Macron num momento de fragilidade. Meses de protestos dos Coletes Amarelos tinham desidratado o governo, que já não sabia mais que fazer pra acabar com a crise.

A chegada do covid-19 foi providencial. Diante do inimigo maior, os últimos protestatários vestidos de amarelo baixaram os braços e voltaram pra casa. Um esperto Macron entendeu que, mais que nunca, os franceses desamparados precisavam de um líder forte. Em duas ou três falas solenes, transmitidas em cadeia nacional, mostrou que havia entendido a angústia do povo e que estava conduzindo a batalha.

Espalhou-se a sensação de que, apesar das privações, o barco tem um timoneiro. Diante disso, a popularidade do presidente subiu às alturas. A oposição, que costuma contestar tudo o que vem do governo, está silenciosa. Também, pudera! O avião tem piloto; contestar o quê?

Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano, andava desprestigiado antes da epidemia. Assim que ela surgiu, seu governo tomou as rédeas. O país se uniu em torno de Signor Conte, e a oposição anda calada.

O espanhol Pedro Sánchez era outro que andava mal das pernas. Primeiro-ministro havia pouco, sofria forte contestação. Quando a epidemia atingiu a Espanha, o homem foi para a luta e, da noite pro dia, ganhou músculos e ficou forte e corado. A contestação tirou férias.

Falei dos três países europeus mais castigados pelo coronavírus. Em todos eles, o mandatário-mor soube aproveitar a ameaça pra surgir como salvador da pátria. Enquanto isso…

Enquanto isso, no Brasil, ai, ai, ai. Doutor Bolsonaro é tão desastrado que conseguiu a proeza de se deixar consumir pelo vírus sem tê-lo contraído (pelo menos oficialmente). Com seus vaivéns, suas hesitações, suas falas desequilibradas, suas bolas fora, suas declarações sem nexo – com tudo isso, conseguiu a façanha de perder o bonde. Dormiu no ponto e deixou-se ultrapassar por governadores, prefeitos, magistrados e até ministros nomeados por ele mesmo.

Temos hoje um presidente tonto, batendo cabeça, dando mais ouvidos aos delírios de seus aiatolás do que aos conselhos de assessores mais sensatos.

O defeito maior de doutor Bolsonaro, aquele que antecede todos os outros… vamos dizer de maneira suave: ele é curto de inteligência. Quando o indivíduo têm forte carência intelectual na base, todo aprendizado fica prejudicado. Ele não entende direito o que lhe dizem. Ciente disso, desconfia de tudo e de todos.

Na dúvida, prefere seguir o conselho dos filhos que, no seu entender, são os únicos a quererem o bem do pai. Infelizmente, seus rebentos são destrambelhados; ele, sem captar direito situações complexas, segue os conselhos filiais. E arruinados estamos nós.

2 pensamentos sobre “Líderes de lá, de cá

  1. No meu entender, mais do que inteligência curta ele sofre de uma vaidade desmesurada. Ouve cantar o galo, não sabe onde, mas pega os trechos mais apetitosos politicamente das mensagens científicas, adapta-os à sua noção particular de verdade incontestável e os divulga como evidências de uma mente estratégica superior. Aparentemente, ele quer surgir ao final da pandemia como único líder mundial a ter percebido o enfoque correto para “salvar” o povo.

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    • É verdade o que você diz. Ele adoraria ser visto como único, o maior, o máximo. (Aliás, é o desejo inconfesso de muita gente fina.) Só que, digamos, parco de inteligência, não se dá conta de que está fazendo tudo errado.

      E olhe que isso não vale só para sua reação diante da epidemia; vale para o dia a dia do doutor. Faz trapalhadas, uma atrás da outra, por não ter entendido direito.

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