Caiu na rede

José Horta Manzano

Alguém disse que foi no Facebook que doutor Bolsonaro cresceu, e que de lá não quer sair. É verdade, é sinal dos tempos. Quem precisou levar uma sova pra aprender isso foi doutor Alckmin, candidato infeliz à Presidência. Não se tendo dado conta de que os tempos haviam mudado, ele apostou todas a fichas no horário eleitoral ‘gratuito’ transmitido pela tevê. Perdeu todos os anéis e, por um triz, não se foram os dedos.

Doutor Bolsonaro não mora no Alvorada nem no Torto. Fixou residência nas redes sociais. Disse adeus a palanques e comícios, dos quais nunca foi grande fã. Passa longe de escrever artigos para a imprensa e de discursar no rádio. Desdenha aparições na televisão. As redes sociais são sua praia favorita. Esse é, por sinal, o ponto de maior semelhança entre ele e seu homólogo dos EUA. De fato, Mister Trump reza pelo mesmo missal: tudo pelas redes, nada fora delas.

Quem achar isso estranho, que vá se acostumando: estamos no limiar de nova era no terreno das comunicações. Discursos radiofônicos e comícios para um mundaréu de gente traziam ao ouvinte a desagradável impressão de que a fala não havia sido dirigida a ele, mas a uma multidão ‒ um discurso impessoal, que sempre deixava um gostinho de insatisfação.

A comunicação por meio das redes é direta. O recado aparece na palma da mão do eleitor, como se lhe fosse pessoalmente endereçado. Frases curtas e despojadas convidam à leitura e facilitam o entendimento. O cidadão tem uma sensação de intercâmbio amistoso entre o líder e ele, como se a hirerarquia tivesse desaparecido ‒ ainda que isso não seja verdade.

O governo de um país da importância do Brasil, no entanto, é por demais complexo pra ser exercido em ritmo de tuitadas. Frases de efeito, ainda que angariem milhões de likes, se não forem seguidas de ação concreta, não levarão a bom porto. Dez dias é pouco pra avaliar um governo de quatro anos. Mas é bom que, lá em cima, doutor Bolsonaro comece a se preocupar menos com palavras impactantes e mais com ações concretas. É pra isso que foi eleito.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.