José Horta Manzano
Você sabia?
A bandeira ‒ em termos crus, um pedaço de pano amarrado num cabo ‒ é símbolo forte cuja origem se perde no passado. Desde a antiguidade, vem servindo como representação de um grupo ou de uma comunidade. Pode corresponder a um regimento, uma firma comercial, um território, uma cidade, uma nação.
No topo do mastro, a bandeira indica a vitória ou a predominância do grupo representado. Arriada ou, pior, destruída ou queimada, significa a perda de soberania, a derrocada. Em momentos violentos, tanto em batalha militar quanto em manifestação de rua, assiste-se por vezes ao triste espetáculo de queima da bandeira do adversário. É reminiscência de prática ancestral, embora os atores nem sempre se deem conta do significado do ato.
O que pode até ser compreensível num campo de batalha é desnorteante em manifestações populares. Em recentes passeatas no Brasil, bandos de ignorantes chegaram a queimar a bandeira do próprio país(!), numa atitude descabida. É como se se autodestruíssem e aniquilassem a própria identidade. Felizmente, demonstrações de estupidez desse jaez são raras em nossa terra.
A Europa medieval criou espetáculos festivos de homenagem à bandeira. Duas ou mais comunidades se afrontavam, numa espécie de concurso, onde cada participante agitava e atirava sua bandeira ao ar para recolhê-la antes que caísse ao chão. Há séculos, a Suíça importou essa prática de países meridionais. Os encontros em que a bandeira é personagem central sobrevivem em alguns poucos países. Na Suíça, no entanto, faz parte do folclore nacional. É tradição cultivada com carinho e renovada em momentos especiais a cada ano.
A arte de atirar a bandeira ao ar chama-se «Fahnenschwingen» em alemão, «lancer de drapeau» em francês, «sbandieramento» em italiano. É exercício com regras rígidas. Não se joga de qualquer maneira. Consiste em agitar de um lado para outro uma bandeira de formato padronizado, em seguida lançá-la para cima e apanhá-la pelo cabo antes que caia ao chão. Parece simples, mas exige muito treino e técnica apurada.
O regulamento descreve 90 figuras, das quais cerca de 50 são executadas por ocasião de todo concurso. Frequentemente, os lançadores de bandeira são acompanhados por um conjunto de instrumentos de sopro típicos chamados trompa dos Alpes (Alphorn, cor des Alpes, corno alpino).
Nos tempos de antigamente, a trompa alpina ‒ cujo comprimento pode atingir 18 metros ‒ servia para comunicação à distância, num expediente análogo aos sinais de fumaça usado pelos índios de Hollywood. Nestes tempos de telefone celular, deixou de transmitir informações para dedicar-se unicamente a alegrar momentos festivos.
Ao vivo
O youtube traz alguns vídeos de arremesso de bandeira acompanhado por corno alpino. Quem estiver interessado pode dar uma espiada neste aqui (de 1min50) ou neste aqui (de 48 segundos).


Esse evento foi um dos que mais me deram problemas para traduzir. Em inglês, ele é chamado de “flag waving”. Procurei no Google e até em sites suíços para ver se encontrava uma pista e nada. Acabei traduzindo por “agitação das bandeiras”. Jamais me ocorreria “levantamento”. De qualquer maneira, eu acho lindo tanto o movimento das bandeiras quanto o som das alphorn.
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Acho que “arremesso” pode dar boa ideia. Repare que a foto central do post foi tirada em Interlaken.
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Nossa, eu não tinha me dado conta disso! Eu nunca estive em Interlaken, mas já havia visto essas fotos no site da Interlaken Tourism. Depois que você sugeriu arremesso como tradução (gostei!), me ocorreu – só para não dizer que tive um “insight” – que uma tradução ainda melhor podia ser “a dança das bandeiras”. Que tal?
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Você quis dizer que teve uma ideia, não é? E por que não? Sempre soa melhor que as traduções “to the foot of the letter” que se veem por aí.
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É isso aí! Quando penso em insight, a imagem que me vem à cabeça é sempre a da lampadinha que se acende no cérebro do Professor Pardal (lembra dele?)
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