José Horta Manzano
Tudo o que vem de fora desperta curiosidade. No Brasil, esse fenômeno é levado ao paroxismo. Tudo o que for estrangeiro não só chama a atenção, mas também é tido como melhor, superior, mais eficaz, mais chique.
Estes últimos anos, a importação maciça de produtos chineses de segunda linha tem abalado um pouco essa característica nacional. A tendência a cair na real é positiva, mas ainda tímida.
Nos tempos de antigamente, chique mesmo é o que vinha da França: modas, objetos, palavras. Bastava dizer que era de Paris, e pronto: o sucesso da novidade estava garantido. Lingerie, buffet, petit-pois são remanescentes, entre milhares. De uns anos pra cá, os ventos mudaram de quadrante.
Hoje em dia, palavras francesas perderam prestígio. A língua inglesa está por cima da carne seca. Liquidação, palavra chué, deu lugar a sale. É coisa fina.
Tenho recebido, de um dos grandes jornais brasileiros, convites repetidos para tornar-me assinante. Em três anos, já me mandaram 255 mails, numa média de um a cada quatro dias. As mensagens não me incomodam. Já o texto, sim. Propõem assinatura. Não com desconto, que isso é coisa de pobre. Oferecem 50% off. Supimpa!
Tem uma palavra que me faz sempre sorrir. Os tradicionais e simpáticos bichinhos de estimação não são mais bichos nem animais. Nem o melhor amigo do homem escapou. Agora o termo pet serve para todos. Até lojas onde se vendem animais de companhia chamam-se agora pet-shops.
É a vingança do francês. A origem mais apontada para o inglês pet é petty, que vem direto do francês petit (= pequeno). O mundo dá voltas mas é… pequeno.
Na França, a novidade jamais será adotada, é certeza. A palavra pet é parente e tem o mesmo significado do italiano peto e do espanhol pedo. Pra poupar ouvidos sensíveis, dou tradução alternativa: flatulência. Essa é a realidade, não há como escapar.
Uma loja parisiense que ousasse escrever na fachada «pet-shop» dificilmente teria sucesso. Para ouvidos de lá, o produto oferecido costuma ser fabricado em casa mesmo.
Curiosidade
Nossa palavra petardo (peça explosiva), frequentemente usada em jargão futebolístico, pertence à mesma família.
Tenho um amigo que costuma contar uma piada com a expressão “Quel pet-tu-lances”
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Ça a l’air très suce-pet !
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Fiquei sem saber o que significa suce-pet. Ainda que eu tenha pistas do significado, iluminai-me ó divino mestre, por favor
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Suce-pet se pronuncia exatamente como suspect. São homônimos homófonos. Já o significado é bastante diferente. Enquanto este é suspeito, aquele chupa flatulência. Com o perdão da escatologia.
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Adorei a explicação, obrigada. Se o segundo significado fosse aplicado a todos os políticos acusados de corrupção em nosso país, a coisa toda ficaria mais clara.
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E o ar, mais rarefeito.
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