José Horta Manzano
A cidadezinha francesa de Bussy St-Georges, de 25 mil habitantes, está situada na região parisiense, a 30km da capital e apenas a 7km do parque de diversões Disneyland.
Em 1980, com menos de quinhentos habitantes, não passava de sonolento vilarejo da zona rural. Em quarenta anos, a população multiplicou-se por mais de quarenta. É fato notável que, sem enquadramento atento, pode fazer desandar o quotidiano dos cidadãos.
Gente de muitos horizontes veio acrescentar-se aos camponeses originais. Franceses de raiz, fugindo os aluguéis inabordáveis da capital, fixaram residência no pequeno burgo. Imigrantes muçulmanos das antigas colônias francesas do norte da África também estão presentes. Por seu lado, imigrantes chineses, vietnamitas e cambodgianos constituem 35% da população do burgo.
Nestes tempos de enfrentamento entre fiéis de diferentes religiões, a presença de pessoas oriundas de diferentes universos periga transformar-se em foco de tensões. Em vez de esperar de braços cruzados que o pior acontecesse, as autoridades municipais optaram por tomar a iniciativa.
Grande área foi reservada para a construção de uma Esplanada das Religiões. Mal comparando, respeita-se o mesmo princípio de uma praça de alimentação de shopping center onde pizzas, sushis, paellas, brigadeiros e pastéis podem ser degustados a alguns centímetros de distância uns dos outros, sem que ninguém se sinta incomodado.
A esplanada compõe-se de dois templos budistas, uma mesquita (para os muçulmanos), uma sinagoga (para os judeus), uma igreja protestante. Um centro cultural para católicos armênios completa a coleção. A comunidade católica tradicional não está representada no novo espaço porque a cidadezinha já conta com duas igrejas, uma das quais fica bem próximo. Foi considerado supérfluo erigir mais um templo.
A construção do empreendimento ainda não chegou ao final, mas as obras continuam aceleradas. É que, para não favorecer nenhuma religião, a municipalidade cedeu o terreno mas se absteve de bancar as obras. Aliás, a lei francesa proíbe o uso de dinheiro público para fins religiosos. Cada comunidade teve de encontrar seu próprio financiamento.
O homem costuma temer aquilo que não conhece, é natural. A coabitação incentiva o mútuo conhecimento e favorece o mútuo respeito. Dificilmente Bussy St-Georges será, um dia, palco de combate interreligioso. Os que tiveram a ideia merecem parabéns.
PS: Armonitace ‒ que aparece na ilustração ‒ é criação artística encomendada para simbolizar a Esplanada. O conjunto entrelaça o símbolo estilizado de cada uma das religiões.