José Horta Manzano
Chamada do Estadão deste 7 jul° 2015.
Este blogueiro é do tempo em que parto era substantivo masculino e que, como tal, costumava ser acompanhado de adjetivo no masculino. Pela novigramática, doravante teremos menas cesarianas. Ou não?
Nunca tinha pensado nisso antes! Será que foi para o feminino porque homens não fazem parto? Ou será que está implícita a ideia de uma operação cesariana? Em qualquer caso, o que essa cirurgia tem a ver com César? Ilumine-me, por favor.
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É mais que provável que, na cabeça do autor da chamada, estava expressão do tipo «parto (à moda) cesariana», «parto (por operação) cesariana», «parto (de acordo com a prática) cesariana». Mas que ficou esquisito ficou.
Escribas de dois mil anos atrás celebrizaram a história de que o imperador romano Júlio César tinha nascido por meio de operação cirúrgica. Mas o caso é inverossímil.
Hoje nos damos conta de que, naquele tempo, as probabilidades de sucesso de uma intervenção dessa importância eram próximas de zero. Sem assepsia, sem antibióticos, sem desinfecção de petrechos, sem fio de sutura, sem conhecimentos profundos de anatomia, sem cuidados pós-operatórios? Não dá pra acreditar.
Imagina-se que a lenda tenha sido criada para dar importância ao imperador, para aproximá-lo de um deus do Olimpo, daqueles que nasciam da barriga da perna de outra divindade.
Foi preciso esperar quase dois milênios. A prática regular de operação dita cesariana é relativamente recente. Só se tornou possível a partir do fim do século XIX, quando o homem, tendo finalmente entendido o mecanismo da contaminação, adotou práticas simples como lavar as mãos e desinfectar instrumentos.
A chegada da penicilina, nos anos 1930, deu um empurrão à prática.
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Ou, quando se trata de parto, comete-se um aborto gramatical antes do nascimento da frase?
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