Repita!

José Horta Manzano

Relógio 2Son las siete de la mañana, las seis en Canarias é o bordão que estações de rádio espanholas repetem escrupulosamente cada vez que o ponteiro dos minutos bate lá em cima. Dão sempre a hora nacional sem esquecer os que vivem sob fuso horário diferente do de Madri.

– São sete horas. – Repita! – São sete horas! Só não ouviu esse estribilho quem nunca passeou pelas estações brasileiras de rádio. É ladainha repisada todas as manhãs por uma das rádios mais sintonizadas do País. Está presente (e é captada) em todo o território nacional. Pelas artes da internet, até no exterior se pode ouvir.

Que a Rádio Clube de Xiririca do Fundão dê a hora local é compreensível: sua plateia vive no máximo a algumas léguas do lugarejo. Que uma das maiores emissoras do País, que conta com audiência do Oiapoque ao Chuí (como se dizia antigamente), faça a mesma coisa é frustrante.

Os 4300 quilômetros de largura do Brasil se estendem por quatro fusos horários. Quando a rádio que mencionei afirma e repete que são sete horas, noronhenses, mato-grossenses, acrianos, amazonenses e outros têm de recolher-se à sua insignificância. Cada um deles é obrigado a calcular mentalmente sua verdadeira hora.

Fusos horarios 3Quando o locutor apregoa que são sete horas, o noronhense sabe que, para ele, são já oito horas. O mato-grossense entende que, na sua província esquecida, ainda são seis da manhã. E o defasado acriano será obrigado a fazer continhas para deduzir que o galo ainda não cantou por lá: não passa das cinco da madrugada.

A estação de rádio à qual me refiro não é a única a agir assim. Todos fazem igual. Um ou outro, mais cuidadoso, explicita que está dando a hora de Brasília. É mal menor.

Sou incapaz de dizer de onde vem essa ideia de que o mundo começa no umbigo e termina um palmo adiante do nariz. Hesito entre descuido, ignorância, arrogância, preguiça mental. Levando em conta que costumam dar a temperatura de variados pontos do território nacional, prefiro acreditar que se trate de simples descuido conjugado com um tiquinho de arrogância.

Relógio 1Ah, tem mais. Aproveitando a onda da «Pátria Educadora», bem que podiam ser um pouco menos bruscos quando ordenam que o coadjuvante repita.

«Repita, por favor!» seria mais delicado e mais adequado. Fariam escola. Quem sabe um dia acordam.

Um pensamento sobre “Repita!

  1. Essa coisa de “repita” nunca deu certo no Brasil. A razão de muitos brasileiros terem desistido de aprender a língua inglesa é talvez aquele comodismo de “the book is on the table” que já nem mais se usa no chamado Ensino Fundamental, tampouco jamais se usou em cursos de idiomas. Em vez de “repeat!”, devemos (os brasileiros) ser instados a obedecer à frase que é o nome de uma revista muito boa para brasileiros que (lado a lado com a internet) traria mais gente para aprender a língua do querido Uncle Sam e de outros tios: “speak up”. Hoje, eu diria: “YAHOO up”.

    Curtir

Deixar mensagem para Jaciel Cancelar resposta