Pelo buraco

José Horta Manzano

Até não faz muito tempo, representantes das altas esferas enchiam a boca para afirmar que havíamos chegado ao Primeiro Mundo. Que nos tínhamos tornado grande potência. Que o atendimento médico estava próximo da perfeição. Que as rodas de um mágico trem-bala estariam silvando antes da Copa-14. Que o Rio São Francisco, tripartido, já estaria por estas alturas mitigando a sede de desolados ermos nordestinos. Houve até quem acreditasse.

Interligne 23

Havia um cômico brasileiro, cujo nome agora me escapa ― poderia bem ser Jô Soares, mas não posso garantir ― que, tempos atrás, recitava o bordão: «Ah, mas isso aí foi o antes, depois houve o durante, agora estamos no depois!». Pois é, os devaneios megalomaníacos do Planalto eram o antes. O durante já está passando. Estamos chegando ao depois. O que restou do sonho não é lá flor que se cheire.

Semideuses na cadeia. Parlamentares algemados. Escândalos federais, estaduais e municipais se sucedendo feito cachoeira. Dólar que sobe, real que desce, inflação que assusta, criminalidade que se banaliza.

Interlagos ― Cuidado, buraco na pista! Crédito: Eduardo Knapp, Folhapress

Interlagos ― Cuidado, buraco na pista!
Crédito: Eduardo Knapp, Folhapress

A Folha de São Paulo deste 21 de novembro traz uma inacreditável informação, indigna de um país que está às portas de organizar eventos planetários como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. A pista de Interlagos, que deve ser palco, daqui a 3 dias, da última corrida desta temporada da prestigiosa Fórmula 1, apresenta um buraco no asfalto. Não acredita? Pois leia a reportagem e veja a foto. A panela tem 15 centímetros de diâmetro, mas, segundo os organizadores do evento, não interfere na corrida(!). Fico aqui imaginando um daqueles bólidos, lançado a 300km/h, que, desgovernado, caia na panela. É melhor não pensar no que pode acontecer.

Não se consegue disfarçar a realidade por muito tempo. Infelizmente, nosso País não está conseguindo sustentar a imagem de grande potência que tentou projetar. Os fatos se encarregam de desmentir bravatas e desfazer ilusões.

Do jeito que a coisa vai, ninguém pode garantir que o Brasil continue a fazer parte do circuito mundial da Fórmula 1. Nossa homologação periga escorrer pelo buraco. Uma eliminação seria vergonhosa.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.

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