José Horta Manzano
A cidade de Bruges fica na provícia de Flandres Ocidental, no norte da Bélgica. Seus canais lembram uma ultraconhecida cidade italiana, daí seu apelido de Veneza do Norte. Na região fala-se flamengo, um dos dialetos do holandês. Cá entre nós, holandês é apenas o nome popular do idioma. Quem quiser se exprimir corretamente e impressionar diga neerlandês.
Aliás, o verdadeiro nome da língua é, realmente, neerlandês. Holanda do Norte e Holanda do Sul (Noord-Holland e Zuid-Holland) são duas das doze províncias que compõem o Reino dos Países Baixos. São as mais importantes, é verdade, mas não as únicas. Dizer que a língua do país é o holandês equivale a dizer que os brasileiros falam carioca. É inapropriado.
Na periferia de Bruges fica a cidadezinha de Zedelgem, pouco mais de 20 mil habitantes, um daqueles lugares pacatos, onde pouca coisa acontece. A vila é mais conhecida por seu edifício medieval, o lindíssimo Castelo de Baesveld. A quem interessar possa: o monumento pode ser alugado para casamentos e outras celebrações. Informações na prefeitura.
Algo fora do comum aconteceu estes dias no tranquilo vilarejo. Caiu uma chuva de dinheiro. Nada de sobrenatural, vou contar-lhes como ocorreu. Deu na televisão.
Um assalto ― coisa rara naquelas bandas ― deu errado. Malfeitores se apoderaram de dois cofres-fortes e os embarcaram num furgão. Assim que se puseram a escapar do lugar do crime, perceberam que estavam sendo seguidos pela polícia.
Para atrapalhar os que os perseguiam, atiraram um dos cofres no meio da rua, com o carro em movimento. Com o choque, a caixa-forte se partiu e uma chuva de notas atapetou a rua principal. Notas verdes de 100 euros caindo do céu? A Bélgica é país chuvoso, por certo, mas em princípio o que costuma cair é água fria. A população nunca tinha assistido a espetáculo tão fascinante.
A Bélgica não é conhecida por abrigar gente desonesta, mas, sacumé, a ocasião faz o ladrão. Quem pôde, saiu à rua para catar nem que fosse algumas notas. Parece até que uma distinta senhora chegou ao local empunhando uma vassoura, para racionalizar e apressar a preciosa colheita antes que algum aventureiro lançasse mão.
A polícia conseguiu recuperar boa parte do butim, assim mesmo faltava meio milhão de euros. O prefeito do lugarejo, cioso da fama de honestidade de seus governados, teve uma ideia: mandou instalar uma espécie de caixa de cartas onde cidadãos arrependidos poderiam inserir, de forma anônima, as cédulas surrupiadas.
A emenda saiu pior que o soneto. Na calada da noite, outros ladrões vieram e levaram… a caixa de cartas. Com seu conteúdo, naturalmente.
Lá como cá…
