The Stooges

José Horta Manzano

Assim como eu, o distinto leitor é, sem dúvida, jovem demais pra ter vibrado com as aventuras d’Os Três Patetas, um trio que começou a atuar no cinema mudo e continuou quando a voz revigorou as fitas de Hollywood. Isso foi no tempo em que ainda se traduziam expressões estrangeiras. Fosse hoje, diríamos bovinamente «Os Três Stooges», que era o nome original. Na época, o trio tinha muita graça. Hoje, o entusiasmo das plateias seria, certo, menor.

Ao observar, inquieto, as cabeçadas que anda dando nossa trupe governamental, não posso deixar de me lembrar das patacoadas dos patetas cinematográficos de um século atrás. Só que há uma diferença afligente. Os do cinema eram pagos pra fazer graça. Recebiam cachê e, baixado o pano, a vida retomava seu curso. A graça só continuava nas crianças encantadas que saíam do espetáculo com os olhos cheios de riso. As patetadas atuais são, ai!, mais profundas. E de engraçado não têm nada.

No cinema, o patetas eram só três. No Planalto nosso de cada dia, são muitos. Como numa orquestra sem maestro, cada um deles faz questão de dar contribuição para a palhaçada geral. Quanto mais desencontrada for a fala, melhor será o efeito. Com os primeiros-filhos menos salientes estes últimos dias, o vazio está sendo preenchido pelo presidente em pessoa, devidamente acolitado pelos assessores mais chegados.

Os Três Patetas

Temos um “presidente temático”, como definiu, com felicidade, a jornalista Vera Magalhães. Não tendo ainda vestido o terno presidencial, doutor Bolsonaro continua em cima do palanque a discursar pra convencidos. Sua última tirada é mexer no vespeiro dos acontecimentos de 31 de março de 1964. O presidente não atina com o fato de que nada de bom pode sair dessa cutucada irresponsável.

Saudosistas do regime militar estarão insatisfeitos, pois esperam de doutor Bolsonaro forte guinada autoritária ‒ que não virá. Quanto aos ressentidos da ditadura, também estarão incomodados com essa indisfarçada simpatia que o presidente nutre por aquele período. Entre mortos e feridos, todos estarão insatisfeitos. Só a uma mente inconsequente viria a ideia de fazer cosquinha na onça com vara curta.

Nosso governo é um imenso Titanic à busca desesperada de um iceberg.